Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica comédia

De um outro tempo, peça continua engraçada

Escrita em 1979, 'Trair e Coçar É Só Começar' tem tiradas datadas, mas é salva pela protagonista Anastácia Custódio

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Muito antes da invasão das farsas inglesas e americanas, havia "Trair e Coçar É Só Começar". A estreia foi 28 anos atrás, mas o texto de Marcos Caruso é anterior, de 1979.

Com 35 anos, é compreensível que, vista no último fim de semana, soe datada. Até perdeu as piadas mais envelhecidas, ao ser reencenada por José Scavazini --o diretor original, Atílio Riccó, vive hoje em Portugal.

Mas não tem jeito: a história inteira, não algumas poucas cenas, é de um outro tempo. Continua engraçada. A personagem central, a empregada Olímpia, remete aos criados espertos de gêneros populares como vaudeville e commedia dell'arte --e, na origem, das comédias clássicas. Protagoniza a subversão da ordem.

O problema é que várias das tiradas preconceituosas de quatro décadas atrás, como a empregada errar concordância sem parar ou o homossexual afetado, hoje causam estranheza.

As comédias de Plauto (254-184 a.C) mostram surras de criados e soam apenas anacrônicas. Mas em "Trair e Coçar" Olímpia apanha de seu patrão, aos gritos, nas coxias do teatro, e não tem graça.

Haveria outros caminhos para lidar com os anacronismos, aceitando-os como retrato crítico de um Brasil do passado ou cortando mais. A opção, porém, foi atualizar cenários e tudo mais, o que torna o patrão um criminoso --constrangendo o riso.

De todo modo, Scavazini e o atual elenco exploram à última gota, mais até que no espetáculo visto há 22 anos, os diálogos incessantemente engraçados de Caruso.

Vale em especial para Carlos Mariano, que interpreta, apreciando as palavras, o patrão. E que na apresentação consertou uma porta, ferramentas na mão, sem afetar o ritmo da peça --entrar, sair e bisbilhotar por portas é essencial no gênero farsesco.

Mas a salvação se concentra em Olímpia. Anastácia Custódio, no papel desde 2005, não deve nada a Denise Fraga, que ganhou renome com a personagem nos anos 1990.

Traz um enlouquecimento maior para Olímpia. Abraça sua sexualidade, é francamente desrespeitosa, subversiva. Ajuda a tornar "Trair e Coçar" menos abusiva.

TRAIR E COÇAR É SÓ COMEÇAR
ONDE Teatro Renaissance, al. Santos, 2.233, tel. (11) 3069-2286
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 18h
QUANTO R$ 60 e R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página