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Crítica - Romance

Narrativa arrastada interessa quando conta cultura da Índia

NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHA

Os aguapés, que dão título ao novo romance de Jhumpa Lahiri, são plantas aquáticas, também conhecidas como jacintos d'água, cuja principal característica é a alta tolerância a poluentes.

Numa narrativa que quer se assemelhar a uma saga familiar --cobrindo quatro gerações de indianos e americanos--, estabelecendo correspondências cíclicas e permanentes com a natureza, os aguapés, obviamente, exercem papel metafórico.

Udayan, revolucionário naxalista (rebeldes indianos que desejavam implementar o maoísmo em Calcutá), e seus pais conservadores sobrevivem digna, mas duramente num subúrbio da cidade.

Os dois irmãos, Subhash e Udayan, se destacam nos estudos e, por algum tempo, são o orgulho dos pais. Mas Subhash parte para Rhode Island, para estudar oceanografia, e Udayan, não se submetendo ao casamento arranjado, casa-se com a intelectual Gauri e segue o caminho da rebeldia política.

Os dramas se sucedem com relativa rapidez, estendendo-se por cerca de 40 anos, incluindo diferenças culturais, políticas e os aspectos positivos e negativos da vida na Índia e nos Estados Unidos. São lances de abandono, descoberta da sexualidade, conflitos de costumes e até questionamentos filosóficos.

Mas o que poderia ser um romance de formação ou uma problematização cultural e política segue como uma narrativa arrastada e distante, com personagens achatados e tediosamente descritos em ações desnecessárias.

O que fica é o interesse inevitável pelas diferenças culturais e pelo desenrolar da história oficial da Índia, desconhecida no Ocidente para além de Gandhi.

Mas, para isso, não seria necessário um romance de 470 páginas, em que se repetem fórmulas quase prontas de analogias com a natureza --"a estrada era ladeada por árvores de tronco cinza e branco que pareciam incapazes de dar folhas ou frutos", "a luz do sol escoava por sobre as copas das árvores que, em questão de semanas, tinham-se feito verdes e viçosas".

Há também caracterizações anacrônicas da aparência dos personagens --"nariz adunco", "rosto magro", "cabelo basto"-- e de suas ações --"abriu a gaveta", "virou à direita", "ligou o carro"--, sem que isso exerça alguma função na narrativa.

Contrastes culturais são interessantes. Semelhanças e diferenças entre paisagens também. Metáforas extraídas da natureza são um recurso clássico da literatura. Mas um bom romance é mais do que a soma de bons ingredientes.


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