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Crítica serial

LUCIANA COELHO coelho.l@uol.com.br

'Penny Dreadful' perverte terror do século 19

Narrativa do primeiro ano deturpa os anti-heróis literários, mas se salva com personagens originais

A LITERATURA VITORIANA, especialmente seus romances de horror, exerce um fascínio incontido sobre os produtores americanos, que de quando em quando tentam reinventá-la com variados graus de sucesso. A mais recente dessas versões é "Penny Dreadful", cuja primeira temporada termina neste domingo (29) nos Estados Unidos.

A série, que estreou no Brasil no último dia 13 e terá continuidade em 2015, conta as explorações sobrenaturais de um aristocrata em busca da filha (Timothy Dalton, que envelheceu bem pós-James Bond), uma moça atormentada (Eva Green, em uma versão sombria das personagens das irmãs Brontë) e um pistoleiro americano com nuances pouco usuais (Josh Hartnet, de "Sin City").

A seu redor, na Londres borbulhante de descobertas tecnológicas, avanço econômico pós-revolução industrial, produção artística e de um interesse da classe alta pelo ocultismo, pairam Victor Frankenstein e seu monstro, Dorian Gray e seu sinistro retrato e um par de ideias e nomes retirados de "Drácula".

A premissa é batida e os escritores Mary Shelley, Oscar Wilde e Bram Stoker não mereciam ir mais uma vez juntos para o liquidificador do século 19. Muito menos misturados a divindades egípcias, mesas brancas e demônios possuidores de mocinhas, além de pitadas de --oi?-- Shakespeare.

Mas "Penny Dreadful", que tira seu nome dos jornais tão baratos quanto sanguinolentos vendidos na capital britânica de então, não chega a ser irritante como a recente "Drácula", cancelada após temporada única.

A seu favor, tem a produção elegante, assinada pela dupla britânica Sam Mendes e Pippa Harris, e a preocupação em emprestar apenas o espírito desses romances consagrados para tecer sua própria história, sem ofender demais devotos literários (a TV continua devendo a "Frankenstein", tão atual, uma adaptação à altura).

Peca, porém, em forçar a mão em cenas de sexo que destoam do clima austero da era e que inexistem nos livros, mais voltados ao orgulho, à vaidade e à mesquinharia humanas do que à luxúria --um clichê nas adaptações recentes.

A cada capítulo, a história de um dos protagonistas é esmiuçada e os melhores são aqueles dedicados aos personagens inéditos, sobretudo à misteriosa Vanessa Ives (Green).

É ao mostrar sua via crúcis pelos tratamentos para histeria e outros males psiquiátricos em voga na época que "Penny Dreadful" garante seus verdadeiros momentos de terror, bem mais assustadores do que qualquer fenômeno sobrenatural.

Talvez a série seja inglesa demais no ritmo e americana demais na intenção, não a mais feliz das combinações. É sempre bom lembrar que a última pessoa a fazer uma salada de mitologias com sucesso se chama J.K. Rowling, com Harry Potter. Ela tinha domínio raro dos ingredientes. E um público adolescente.


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