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Depoimento

Mostra não respeita memória da violência e do vazio de 1968

ANTONIO MANUEL ESPECIAL PARA A FOLHA

Reencenar essa exposição é uma loucura. Estão fazendo isso sem considerar o que aconteceu naquele ano de 1968. Temo muito essa coisa.

Quando fecharam a exposição, prenderam pessoas, e as obras foram retiradas e desaparecidas. Eu tinha sido convidado para participar da 2ª Bienal da Bahia com um painel de quatro metros, com diversas imagens de jornais impressos em serigrafia sobre um fundo vermelho.

A obra tratava da violência de rua entre policiais e estudantes. Nela estava escrita a frase "Repressão outra vez".

Tenho até hoje o recibo de entrega da obra, que nunca me foi devolvida. Alguém me disse que esse trabalho teria sido queimado, mas ninguém sabe o que aconteceu.

Foi uma coisa bastante forte, de exceção, de violência. Foi uma sensação de vazio, de impotência. Aliás, não me lembro de outra ocasião em que tenha sentido tanto medo como naquela bienal.

Tive de voltar para o Rio de uma forma bastante dramática. Viajei levando na mão uma caixa de fósforo com informações sobre o que estava acontecendo. Escrevi um bilhete e guardei na caixinha. Se fosse preso, se acontecesse algo, tentaria largar essa caixinha com a esperança de que alguém a encontrasse.

A Bahia agora faz uma nova Bienal, chama de terceira edição e não respeita esse clima. Eles assumem com esse nome o passivo da memória da ditadura, da violência.

Estou indignado com essa história, com essa tentativa de criar algo político sem dar a mínima satisfação aos artistas. Espero que não copiem nem encenem meu trabalho.


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