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Faça a coisa errada

O cultuado diretor americano Bob Wilson fala aqui sobre seu processo de trabalho e 'A Velha', montagem com o bailarino Mikhail Baryshnikov e o ator Willem Dafoe que estreia no dia 24 em SP

GUSTAVO FIORATTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O diretor americano Bob Wilson vive pegando caminhos tortos.

"Às vezes, eu me pergunto: o que eu não deveria fazer agora?' Então eu vou e faço justamente aquilo, e isso pode me levar a uma experiência nova. Se você faz aquilo que sabe que deve ser feito, tudo bem. Mas às vezes é bom fazer a coisa errada", diz o diretor à Folha.

No dia 24, a nova montagem de Wilson, "The Old Woman - A Velha", aporta no Sesc Pinheiros com duas celebridades a tiracolo: o bailarino russo Mikhail Baryshnikov e o ator americano Willem Dafoe. Os ingressos começam a ser vendidos nesta terça-feira (8), a partir das 20h pelo site sescsp.org.br.

O diretor já montou por aqui "A Última Gravação de Krapp", "Lulu" e "Ópera dos Três Vinténs", em 2012, e "A Dama do Mar", em 2013.

Ao falar de escolhas "erradas", Wilson explica como funciona uma etapa importante de suas decisões. É quando se decide a montar um texto do qual não gosta.

Foi o que aconteceu com a "A Dama do Mar". Wilson afirma que não gosta do drama de Henrik Ibsen (1828-1906), o autor, mas ele apostou em uma adaptação de Susan Sontag ((1933-2004) dessa peça, que foi encenada com elenco brasileiro em São Paulo, no ano passado.

"The Old Woman" nasceu de uma aproximação entre Wilson e Baryshnikov. Eles queriam fazer algo juntos e, há cerca de três anos, passaram a se encontrar regularmente até chegarem à ideia de adaptar para o palco o texto do escritor russo Danii Kharms (1905-1942).

Wilson não conhecia o texto, que foi apresentado a ele por Baryshnikov e que carrega traços do gênero absurdo. Desde a primeira leitura, refutou fazer uma leitura psicológica dos personagens.

"Eu li o texto e não entendi nada. Então, eu disse, faremos os movimentos antes, e depois colocaremos o texto em cima.' Essa é uma peça absurda e não adiantava ficar procurando uma lógica quando não há lógica alguma nela", diz o diretor.

Sinuoso, o texto condensa o ambiente politicamente hostil em que foi produzido, trazendo também referências autobiográficas: Kharms nasceu em São Petersburgo em 1905, sofreu perseguição sob o regime stalinista, foi preso e morto aos 36 anos por soldados soviéticos em campo de trabalho forçado.

Na montagem de Wilson, o texto é dividido entre dois palhaços de traços carregados, sob as conhecidas marcas estéticas famosas do diretor: luzes cromáticas bem delineadas, simetrias e movimentação detalhadamente coreografada.

É nesse último item que entra a excelência de Baryshnikov. "Mente é músculo", resume Wilson. "Dançarinos pensam com seus corpos, são um pouco como animais. Quando um cachorro vai em direção a um pássaro, ele não está pensando naquilo, ele está ouvindo com seu corpo inteiro", compara.

Willem Dafoe entra no projeto como contrapeso, por sua voz e tipo. Segundo o diretor, é o complemento do tipo físico do bailarino

"Tenho dois lados do cérebro, mas só uma mente. Eu uso essa dualidade no meu trabalho. Sempre coloco o ator em um papel e digo a ele, você é um homem', e então eu troco, "agora você é a velha'", afirma Wilson.

No fim de 2012, a atriz alemã Angela Winkler descreveu Wilson à Folha como "um diretor que diz o que fazer, mas nunca como sentir".

O formalismo é sua marca, e uma escola pouco comum entre brasileiros.

"É como se ele estivesse fazendo um balé", diz Ondina Castilho, atriz que trabalhou com Wilson em "A Dama do Mar", revezando a protagonista com a atriz Lígia Cortez.

"Ele não pede para que os atores estudem a fundo os personagens. No Brasil, nunca trabalhei com um diretor que faça algo semelhante."

Há outros esforços que Wilson exige de atores para concluir uma montagem. Para poder calcular a luz, com seus desenhos e tonalidades, por exemplo, ele pede ao intérprete que fique parado enquanto faz ajustes.

"Isso pode chegar a até três horas na mesma posição; ele pede para ficarmos como estátuas", conta Castilho, comparando o rigor à execução de uma partitura musical.


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