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Crítica - Teatro

'As Moças - O Último Beijo' volta como drama exagerado

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Em 1969, estreou toda uma geração de jovens dramaturgos no Brasil: José Vicente, com "O Assalto"; Leilah Assumpção, com "Fala Baixo, Senão Eu Grito"; Consuelo de Castro, com "À Flor da Pele"; e Isabel Câmara, com "As Moças", esta mobilizando atrizes como Célia Helena.

Pouco depois do impacto de "Dois Perdidos numa Noite Suja", também tinham só dois personagens cada uma --e mais importante, no dizer do historiador teatral Sábato Magaldi: continuando a linha de Plínio Marcos, os novos dramaturgos injetaram subjetividade no palco.

Depois de uma década de crescente politização, redescobriu-se o indivíduo, ainda que cercado de repressão.

Apelidados de "geração 69" ou "angry young", jovens raivosos, eles partiram para longas carreiras, com uma exceção, apesar do prêmio Molière de melhor peça: Isabel Câmara (1940-2006). Ela se retirou logo em seguida, deixando o mito de autora de uma peça só, pouco remontada, quase esquecida.

A encenação de André Garolli, agora, procura e em grande parte consegue reencontrar o fio histórico.

A produção transmite muito do vigor que, imagina-se, havia então. Angela Figueiredo e Fernanda Cunha são boas intérpretes e vivem com fervor as personagens, respectivamente, da jornalista Tereza, de 30 e poucos anos e mais conformada, e da modelo Ana, de 20 e poucos e mais revoltada.

Elas dividem apartamento na zona sul do Rio e dialogam obsessiva e poeticamente. Entre os temas que as envolvem e teriam causado escândalo à época, até pelo ineditismo no Brasil, estão o lesbianismo e o suicídio.

Pouco expressivos, cenografia e figurinos não aproveitam, mas a trilha sonora de Branco Mello se deleita no "labo B" da época.

Sente-se a falta, porém, de um mínimo de humor, de tirar vantagem da ironia que o texto indica em vários momentos. Há carga dramática excessiva na interpretação, quase melodramática, que torna "As Moças" mais pesada do que teria sido em 1969, auge da contracultura.

Garolli, que já dirigiu "Dois Perdidos", abriu com "As Moças" uma série de peças sobre, como define, a repressão. Isabel Câmara, como toda a sua geração, sofreu com a repressão, de fato, mas também soube ou tentou rir dela --deixando até uma revista quase pronta, "Viva Sapatas".


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