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Um dia no Castelo de Campos

Reportagem espia a rotina puxada dos jovens aspirantes a músicos durante o festival de inverno no interior de SP

PAULO GOMES ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

Mais de uma centena de jovens almoça no salão da pousada. Uma mesa com oito chama atenção pelas gargalhadas. Ao lado, três conversam de jeito comedido.

Estrangeiros com cara de quem faz um mochilão brincam com a loira que passa pela mesa. Ao fundo, só, um rapaz termina sua refeição.

São bolsistas do Festival de Inverno de Campos do Jordão, maior evento de música clássica da América Latina que rola na cidade do interior paulista cravada na Mantiqueira. Para estar ali, a maioria teve de provar sua aptidão enviando vídeos em que tocam trechos de obras. Outros chegaram por intercâmbio entre evento e escolas de música como Juilliard (Nova York) ou Royal Academy (Londres).

Por três semanas, os 145 aspirantes a músicos, distribuídos em classes de 16 instrumentos, composição e regência, vivem em regime de internato. Levantam cedo, ensaiam por três horas, almoçam, têm mais quatro horas de aulas e estudam por conta própria nos intervalos. À noite, assistem aos concertos --quando não são eles que se apresentam.

"Tem que ter carga horária mesmo. Tem gente de lugares que não são centros musicais óbvios, como João Pessoa", diz o coordenador artístico-pedagógico, Fábio Zanon. "O bolsista vê tudo de uma vez. É uma experiência rica."

"A rotina é chata", diz o rapaz que almoçava sozinho, Jonathan de Oliveira, 25, trombonista. "É cansativo, mas faz parte da vida do músico erudito ter essa total disciplina."

Casado e já com filha, ele mora no Grajaú, na zona sul de São Paulo, e integra a Orquestra Jovem de Guarulhos, no outro extremo da metrópole. Leva duas horas de casa até a escola de música, na Luz, e mais uma até Guarulhos. "Minha idade já é avançada, tenho que estudar muito mais, ralar", diz.

MONUMENTO KITSCH

O castelo ao lado da pousada, onde os bolsistas passam as tardes tendo aulas ministradas por cerca de 40 professores, é um "monumento kitsch", como diz Zanon. Tem três andares, subsolo, incontáveis cômodos e múltiplos caminhos para chegar a qualquer recinto.

Estátuas de gesso espalhadas por jardim e aposentos representam ninfas gregas. Brasões, candelabros, esculturas de deuses egípcios e hindus, vitrais, animais empalhados e tapeçarias completam a decoração interna.

O hall central, com lareira e guardado por armaduras medievais, é tomado por uma confusão de sons.

No segundo piso, o trio de contrabaixistas ensaia peças de pop e rock: "Smoke on the Water", do Deep Purple, e "Beat It", de Michael Jackson. Por todos os cantos, jovens treinam concentrados, alheios aos sons dos colegas.

O violista Natanael Ferreira, 19, está em sua quinta participação. Sua namorada, clarinetista, também. "Fico mais com meu instrumento do que com ela."

A violinista Ana Aline Valentim, de Guaratinguetá, vê ali um passo para a carreira. "Tem os melhores professores. E aprendemos com a troca de informação musical com quem vem de fora."

Quem vem de fora, no caso, parece mais interessado no intercâmbio cultural. "Hoje comi pastel de frango!", conta sorrindo a sul-coreana Mina Um, 24, da Juilliard, que nunca tinha estado fora dos EUA ou de seu país e jamais tinha degustado coisa parecida. "Gosto daqui, todos se ajudam", diz.

Mina, Ana, Natanael e Jonathan querem ser profissionais. Naquela noite de sexta (11) eles e outros cerca de cem provariam esse destino ao se apresentarem para 664 pessoas, sob regência da norte-americana Marin Alsop, da Osesp.

Para Zanon, 70% deles ainda chegarão lá.

Os bolsistas se apresentam no sábado (19) e no dia 26 em Campos e reproduzem os mesmos concertos nos dias 20 e 27 de julho na Sala São Paulo, na capital.


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