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Crítica - História

Autor cria relato agradável e útil sobre a Grande Depressão

Em '1929', Ivan Sant'Anna usa técnicas de ficção para explicar fatos e causas

SANT'ANNA FICA NO MEIO TERMO ENTRE RECENTES E EXCEPCIONAIS LIVROS QUE MISTURAM REALIDADE E FICÇÃO

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA ESPECIAL PARA A FOLHA

O livro "1929", de Ivan Sant'Anna, pode ser colocado na categoria do "novo jornalismo", como definida pelos pais do gênero nos anos 1960, por usar técnicas de ficção para relatar fatos reais.

Mas se o autor tivesse ousado um pouco mais, poderia ter produzido um romance histórico, em que dados verídicos são utilizados para constituir o ambiente de um enredo em que realidade e ficção se mesclam.

De qualquer maneira, o resultado é agradável e útil para o leitor. Com o conhecimento do negócio de quem trabalhou 17 anos como corretor em bolsas de valores americanas e a qualidade de escritor que desde 1995 se dedica às letras, Sant'Anna oferece ao público um relato interessante das causas da crise que gerou a Grande Depressão e o envolve com histórias de personagens que a viveram, inclusive celebridades, como Charles Chaplin e Winston Churchill.

Como não se trata de um trabalho acadêmico, ele não se preocupa em citar fontes e comprovar a veracidade de diálogos e situações que descreve, como faz, por exemplo, o ficcionista espanhol Javier Cercas em seu fabuloso "Anatomia de um Instante", que reconstitui a tentativa de golpe em 1981 na Espanha.

Mas como não avança para a área do romance propriamente dito, ele tampouco chega ao resultado excepcional de Mario Vargas Llosa em "O Sonho do Celta", que narra a vida do diplomata e político irlandês Roger Casement.

Sant'Anna fica no meio termo entre esses recentes e excepcionais livros que misturam realidade e ficção, e o resultado final não é tão bom quanto eles.

Um dos problemas é o excesso de personagens, de que o autor parece ter-se dado conta, pois tratou de listar os mais relevantes em ordem alfabética no início do livro para ajudar o leitor a não se perder.

Alguns são incríveis, como o engraxate e a astróloga que vendiam conselhos a pequenos (e grandes) investidores. Outros, bem conhecidos, como Joseph Kennedy, o patriarca do famoso clã, que foi um dos que ganharam muito com a quebra da bolsa de Nova York.

O tema é de grande atualidade, devido aos efeitos da crise de 2008 que o mundo ainda vive, e Sant'Anna, embora não se disponha a fazer análises econômicas nesse volume, deixa clara a necessidade de regulação dos mercados para evitar situações como a de 1929.


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