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Exposição em São Paulo reúne tesouros com pérolas
Joias e obras de arte com valor histórico ou financeiro vieram do acervo do Qatar
Broche do pintor Salvador Dalí e tiara de Lady Di podem ser vistos no Museu de Arte Brasileira da Faap
País acusado de comprar votos no pleito da Fifa que o elegeu sede da Copa do Mundo de 2022, o Qatar exibirá parte do seu tesouro em São Paulo numa mostra sobre pérolas naturais e cultivadas.
Até os anos 1930 consideradas os maiores ativos econômicos da nação árabe, localizada às margens do golfo Pérsico, as pérolas estão encrustadas nas 200 joias e obras de arte expostas no Museu da Arte Brasileira, no prédio da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).
A mostra "Pérolas", organizada pela instituição Qatar Museums, fez sucesso no ano passado no museu Victoria & Albert, em Londres. Aqui, celebra o ano da cultura do Qatar no Brasil e prova o poder econômico do país asiático.
A maioria das peças foi adquirida pelo governo qatariano em leilões de casas famosas, como os das inglesas Christie's e Sotheby's, e em eventos de caridade promovidos por milionários e membros de monarquias.
Num desses leilões, o museu arrematou uma tiara forrada de diamantes e pérolas sem anomalias --perfeitamente redondas, as mais raras do mundo-- que pertenceu a Lady Di (1961-97).
A princesa de Gales ganhou a joia de sua madrasta, a condessa Spencer, que empresta o sobrenome à peça. O valor da pequena coroa não foi divulgado pelo Qatar Museums, que marcou o transporte do seu acervo milionário em diversas datas para evitar roubos.
SURREALISTA
Outras peças de "Pérolas", por sua vez, chamam a atenção mais pelo valor estético e importância na história das artes visuais do que pelo valor financeiro.
É o caso do broche usado pelo pintor catalão Salvador Dalí (1904-89), expoente do movimento surrealista. Em formato de boca, a peça é cravejada de rubis e tem pérolas em sua parte interna simulando dentes.
Já a art nouveau, corrente artística surgida na França no início do século 20 e que valoriza as linhas curvas, é representada em joias como uma tiara feita de chifre lapidado, ouro e pérolas naturais.
"As peças exibem a riqueza cultural embutida na história dessas pérolas, extraídas por pescadores durante milênios e que hoje são raríssimas devido ao aquecimento global e à exploração predatória", diz o curador da exposição, Hubert Bari, 56.
Francês radicado em Doha, capital do Qatar, Bari comanda um museu de joias com mais de 2.000 peças. Ele é o autor de "Pearls" (sem edição brasileira), espécie de bíblia das pérolas patrocinada pelo Qatar Museums.
"Ninguém imagina que há uma explosão cultural no Qatar, que apesar de pequeno e mal compreendido pelo Ocidente, tem sede por cultura", afirma o curador.
Segundo ele, no ano passado foram investidos R$ 5 bilhões em projetos culturais e educativos no país árabe, que tem metade da área de Sergipe, menor Estado brasileiro.