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Performances testam público em São Paulo

Curadores da décima edição da mostra 'Verbo' apostam na maturidade dos visitantes

RAFAEL GREGORIO DE SÃO PAULO

Sentado diante de pequena plateia, Mauricio Ianês usa nanquim e a própria língua para pintar termos como "Palestina" e "7 a 1" em folhas de papel que, em seguida, pendura na parede com fita adesiva. Já em "Metáfora", o ítalo-inglês Manuel Vason prende ao rosto uma câmera que dispara fotos da audiência conforme os movimentos de sua respiração.

Ações como essas são as protagonistas da mostra "Verbo", dedicada à performance. Uma arte interdisciplinar, atrelada a instantes e locais, vinculada à presença ­--ou à ausência-- do artista e do público e cujo registro depende de outros suportes, como fotografias ou pinturas.

A exposição reúne desde 15 de julho obras de mais de 60 brasileiros e estrangeiros na galeria Vermelho, que será palco de 25 ações, algumas permanentes. Como "O Escritor", que Ianês repetirá às terças até o fim do evento, em 9 de agosto.

"O modernismo rompeu com questões da arte clássica, mas manteve clara a separação das especificidades técnicas com grandes pintores e gravuristas. A partir dos anos 1960 os artistas começaram a inverter a questão", explica a curadora Julia Rodrigues, radicada em Copenhagen. Isso causa "certa ansiedade", ela diz, "pois não é fácil abrirmos mão das classificações".

"Não se define facilmente, falta lastro conceitual", explica Marcos Gallon, 48, um dos curadores da mostra e diretor-artístico da Vermelho. Desde a criação, em 2002, por Eduardo Brandão e Eliana Finkelstein, o local investe em exibir e vender performances. "Verbo", que nasceu em 2005, é a expressão maior dessa vocação.

Em sua décima edição, o evento se beneficia de certa maturidade de artistas e público. Performances já não são tão chocantes, afinal, quanto em 1965. Naquele ano, o alemão Joseph Beuys fixou baliza ao vagar por uma galeria com o rosto coberto de mel e ouro, levando nos braços uma lebre morta a quem explicava as pinturas.

"Até 30 anos atrás, falava-se em arte ambiental', algo pensado como arquitetura", reforça a mineira Jaqueline Martins, 38, da galeria homônima. Desde então, artistas como John Cage e grupos como o Fluxus tornaram mais acessíveis termos como "happening", "live art", "site specific" e intervenção.

Também surgiram espaços, como a Live Art, em Londres, e eventos, dos quais se destacam a feira alemã Documenta e a bienal americana Performa. No Brasil, Flávio de Carvalho (1899-1973) e Nelson Leirner abriram um caminho depois pavimentado por instituições e cursos de graduação.

"Percebo uma mudança na disposição das pessoas", diz Gallon. Isso talvez se credite à popularidade de nomes como Yoko Ono e Marina Abramovic, cujas ações são hits no Facebook. Estrela da performance, a sérvia Abramovic é uma provocadora ainda relevante, diz o curador. "Ela introduziu a discussão sobre reencenação quando fez os Seven Easy Pieces'", afirma, citando as exibições em 2005 no museu Guggenheim, em Nova York.

REGISTRO É ARTE?

Neste ano, a mostra mira a documentação. Nos seminários "Verbos Conjugados", que acontecem às quintas-feiras (às 20h), dez artistas, galeristas e acadêmicos buscarão responder questões como: registros de ações em imagens, projetos, partituras e objetos são obras de arte? Se sim, o autor é o performer ou o fotógrafo?

Para o mercado, é essencial entender como e por que comercializar performances. Porém, enquanto não vinga um consenso, impera a ousadia na exploração dos limites da arte. "Documentar é um fetiche envolvente", pondera Jaqueline, "porque aspira à imortalidade". "A performance é um constante duelo entre o eterno e o efêmero."


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