Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Em livro, fotógrafo defende realismo da cor

Stephen Shore, célebre por registrar cenas de subúrbios dos EUA, lança aqui obra sobre elementos técnicos das imagens

No clássico 'A Natureza das Fotografias', artista afirma que o universo das cores resume o espírito de uma época

SILAS MARTÍ EM NOVA YORK

Stephen Shore, 66, é um fotógrafo que nasceu e cresceu em Nova York. Mas as janelas de seu apartamento, cobertas por cortinas amarelas, e os objetos que povoam sua sala de estar, entre eles a estátua de um lince alado, parecem surgidos de um universo alheio à cidade e muito mais coloridos do que o cinza metálico de Manhattan.

No livro que lança agora no Brasil, "A Natureza das Fotografias", Shore defende a cor como o elemento mais vivo de uma imagem, aquilo capaz de tornar tudo mais real.

Sua obra também foge da paleta urbana. Shore é desde os anos 1970 um dos maiores retratistas da América profunda, de estradas que cortam desertos e subúrbios modorrentos, ou lugares que sob a pele banal escondem uma gama de cores berrantes.

"Há paletas distintas para épocas e países distintos. É só olhar para as cores dos carros e dos prédios", diz Shore. "A visão de um estacionamento cheio de carros consegue traduzir todo o sentido de cor de uma era. Isso me ajudou a construir um retrato mais verdadeiro da América."

Ou mais transparente. "Como o mundo é colorido e enxergamos em cores, uma imagem colorida é mais transparente do que uma em preto e branco", explica o artista. "Quem vê a imagem não fica pensando em que escolhas eu fiz na hora de fotografar."

CORES DE AMARILLO

Shore, aliás, gosta de dizer que não faz escolhas muito precisas, fotografando só o que vê no meio do caminho.

E conta que trocou o preto e branco platinado de suas primeiras fotografias --ele começou retratando Andy Warhol na Factory, o mítico ateliê que o artista pop forrou com papel alumínio-- pelo registro colorido quando foi pescar no oeste dos Estados Unidos e parou em Amarillo, cidadezinha no Texas batizada com o nome de uma cor.

Junto do também norte-americano William Eggleston e do italiano Luigi Ghirri, Shore abriu caminho para uma geração de fotógrafos que abraçaram o filme colorido sem receios, numa seara até então dominada pelo estoico registro em preto e branco.

"Tudo era colorido, os pôsteres, os filmes, a TV, sendo que a fotografia artística era o único campo ainda em preto e branco", diz Shore.

"Senti que era hora de questionar isso, mas, nós, que estamos no centro dessa geração, chegamos à solução da cor por caminhos distintos, só que reagindo a uma série de forças semelhantes."

Mas nem tudo são cores. Em seu misto de ensaio e livro técnico, publicado pela primeira vez em 1998, Shore explora a natureza das imagens analisando o foco, a textura e as estratégias de composição.

É uma reflexão que agora poderia ter um novo capítulo sobre comportamento --Shore é um adepto do Instagram, e diz que, depois do advento da cor, a produção em massa de fotografias nas redes sociais abriu um novo e fértil campo de experimentações.

"Isso me deixou livre para produzir coisas que eu nunca pensaria em fazer há dez anos", conta. "O digital ajuda a dar espontaneidade ao registro. Sem uma intenção clara por trás da foto, as pessoas não se censuram mais."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página