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Minueto com Madonna
Balé da Cidade estreia novo espetáculo com inspirações que vão das danças renascentistas às baladas
No próximo sábado (16), o palco do Theatro Municipal de São Paulo passará dos salões da realeza às academias de ginástica e às baladas.
Esses são os ambientes fictícios de "Antiche Danze" e "Cacti 30' ", coreografias inéditas no Brasil que o Balé da Cidade estreia no Municipal,.
"Antiche Danze" é a mais nova criação do coreógrafo italiano Mario Bigonzetti, feita especialmente para a companhia brasileira.
Na obra, ele recria danças pré-clássicas (como minuetos e sarabandas) para corpos contemporâneos. com vigor físico de danças de balada.
A inspiração vem das suítes "Árias e Danças Antigas" do compositor italiano Ottorino Respighi (1879-1936), que adaptou músicas de trovadores dos séculos 16 e 17 para orquestras do século 20.
Para Iracity Cardoso, diretora do Balé da Cidade, essas músicas e danças do passado ainda hoje fazem parte do imaginário das pessoas.
É o caso do coreógrafo Bigonzetti. "Escuto essas músicas desde criança, sempre quis fazer uma coreografia com elas. Quando fui convidado para criar para o Balé da Cidade e soube que teria orquestra ao vivo, decidi na hora fazer essa dança", diz ele à Folha, após um ensaio com os bailarinos, em São Paulo.
Ele está na cidade há pouco mais de um mês, tempo que levou para montar o espetáculo. "É pouco, mas quando há curiosidade e generosidade da parte dos bailarinos, é tudo o que preciso", diz.
O resultado, "Antiche Danze", é uma coreografia alegre, com casais flertando entre si e com a dança. O jogo se estende ao figurino criado por Geraldo Lima. As antigas crinolinas (armações que davam volume às saias) ficaram leves e ganharam vida própria: elas flutuam sobre o corpo, criando formas e movimentos.
"Bigonzetti se apropriou do que os bailarinos estavam vestindo e criou uma coreografia das roupas", conta Lima.
POSES DE MADONNA
A conversa entre o antigo e o atual da criação do italiano é reforçada pela outra coreografia do programa, "Cacti".
Criada pelo sueco Alexander Ekman para a companhia holandesa Nederlands Dance Theater, a obra mistura movimentos de artes marciais, esportes olímpicos e poses da "Vogue dance", estilo surgido nos clubes gays de Nova York e popularizado por Madonna no clipe "Vogue", de 1990.
Bailarinos usando abrigos esportivos dançam e "malham" em cima de tablados de madeira --cada um no seu quadrado. A trilha sonora vem do Quarteto de Cordas da Cidade, de sons criados com os próprios corpos dos bailarinos e de textos gravados em um inglês empolado.
Na apresentação no Theatro Municipal serão projetadas legendas traduzindo os textos, que ironizam o discurso da crítica especializada, com sua linguagem tida muitas vezes por pedante e incompreensível.
"Criei Cactis' em um período em que estava cansado da crítica de arte, de as pessoas terem tantas opiniões sobre o meu trabalho e da noção de belas artes' em geral", disse Ekman à Folha.
Além da ironia, a obra tem as duas coisas mais importantes para Ekman: ritmo e diversão. "Divertir-me é parte essencial do meu processo criativo e de minha vida. Devia ser assim para todo mundo", diz.