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Crítica artes visuais
Mira Schendel ganha mostra a sua altura e complexidade
Exposição na Pinacoteca apresenta 150 obras de forma cronológica
Poucos artistas realizaram um percurso aparentemente tão natural do moderno ao contemporâneo e ao mesmo tempo tão radical como Mira Schendel (1919""1988), o que se observa claramente em sua retrospectiva, em cartaz na Pinacoteca do Estado.
Uma parceria da instituição paulistana com a Tate Modern, de Londres, a exposição, com curadoria de Tanya Barson e Taisa Palhares, apresenta de forma cronológica e em 150 trabalhos como Schendel partiu da pintura convencional, nos anos 1950, chegando a obras que ainda hoje parecem novas, como "Droguinhas" (1965).
Evitando didatismo, as curadoras dispõem as obras sem grandes textos explicativos. Elas criam um percurso que culmina com a reencenação da instalação da artista para o pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza, de 1968.
Composta por doze "Objetos Gráficos" sustentados por acrílicos, a obra reúne dois elementos essenciais na poética de Schendel: a transparência como elemento que elimina a ideia de frente e verso, e a necessidade de se mover em busca da compreensão dos trabalhos.
Tanto a transparência como a mobilidade são estratégias embasadas de forma intensa em conceitos de vários filósofos, como Heidegger ou Sartre, e intelectuais radicados no Brasil, como Wilem Flusser, Mario Schenberg e Haroldo de Campos, amigos da artista. O escopo filosófico de Schendel assim como sua convivência com figuras ilustres do século 20 está retratado no ótimo catálogo que acompanha a exposição.
É de se lamentar, apenas, que a mostra não coube inteira no primeiro andar da Pinacoteca, e que sejam utilizadas quatro salas, no segundo andar, que acabam dispersando seu percurso tão intenso.
É lá contudo, que estão algumas das principais obras da exposição, como "Sarrafo" (1987), em uma montagem impecável, ou a instalação "Ondas paradas de probabilidade", criada para a Bienal de São Paulo, de 1969.
"Mira Schendel" é um dos pontos altos da agenda de arte no país, já que permite imersão em uma artista complexa que não tinha uma retrospectiva à sua altura.