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Análise

Diretor buscava fazer obra de arte sem concessão ao público

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Desde que "Deus e o Diabo na Terra do Sol'" foi exibido no Festival de Cannes de 1964, há 50 anos, sabia-se que o cinema brasileiro mudava de patamar.

Mesmo sem ganhar nenhum prêmio (ao contrário de "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, que levara a Palma de Ouro dois anos antes), era da ordem da evidência que pela primeira vez um filme brasileiro se mostrava tão original, esteticamente, e se mostrava capaz de influenciar o cinema internacional.

Afinado com a modernidade, Glauber buscava fazer uma obra de arte sem qualquer concessão ao público. A opacidade é uma das marcas da narrativa, em que se conta a história das sucessivas identidades de Manuel, que começa como humilde vaqueiro e termina como cangaceiro, após uma passagem pelo misticismo.

Esses três estágios --o vaqueiro, o místico e o cangaceiro-- constituem etapas de uma luta pela terra que por muito tempo se pôde ver como uma luta de classes.

Não era bem isso. Glauber, à sua maneira delirante, recompunha ali três momentos da tragédia nordestina (e nacional, pois o Nordeste era, nesse momento, uma espécie de coração do país).

Ao eleger o misticismo como centro da ação, o cineasta deixava bem claro que não se tratava de uma luta entre Deus e o Diabo pela terra, mas entre Deus e o Diabo, de um lado, e o homem de outro.

A partir de uma produção modesta, Glauber criou uma mise-en-scène operística, grandiosa e barroca, em que introduziu uma série de personagens fortíssimos, como o próprio Manuel, o santo Sebastião, o cangaceiro Corisco e o matador Antonio das Mortes.

Antonio, talvez o mais marcante de todos os personagens glauberianos, com sua vestimenta preta e carregando o seu destino de matador, seria o centro do filme que Glauber faria quatro anos depois: "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro". Desta vez, sim, já conhecido, ganharia o prêmio de melhor direção em Cannes.


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