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Book wars

Escritores se unem contra a Amazon em batalha por preços e participação nos lucros que pode remodelar o mercado editorial

MARCO RODRIGO ALMEIDA DE SÃO PAULO

Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante, escritores rebeldes desafiaram o império on-line.

Em uma narrativa de ficção científica, a querela entre autores e a varejista Amazon poderia ser descrita assim. Num tom mais bíblico, é uma espécie de atualização da saga de Davi e Golias para o mercado digital.

Já no comezinho mundo real, no qual o gigante está longe de ser abatido, o conflito é mais um capítulo de uma batalha iniciada há três meses, envolvendo preços, participação nos lucros e o futuro da indústria editorial.

No último domingo (10), 909 escritores assinaram uma carta, publicada no jornal "The New York Times", contra a Amazon, exigindo que ela "pare de prejudicar a vida dos autores com os quais construiu seu negócio".

Entre os signatários da carta estão, entre nomes desconhecidos no Brasil, pesos-pesados da literatura --em prestígio, vendas ou ambos (Paul Auster, James Patterson, Stephen King, Donna Tartt).

Escolher quem é o herói e onde está o lado negro da força, na vida real, é sempre uma questão de perspectiva.

A Amazon está construindo um monopólio que vai terminar por destruir o mercado editorial como um todo ou promove, com sua agilidade, eficiência e baixos preços, uma difusão sem par da leitura?

A empresa de Jeff Bezos controla em torno de 60% da venda de e-books e um terço do mercado do livros impressos nos Estados Unidos. Para atrair consumidores, a Amazon busca sempre descontos e promoções, chegando a perder dinheiro na venda de alguns livros.

A política do menor preço motivou a disputa iniciada há três meses com a Hachette, a quarta maior editora do mundo, o que serviu de gatilho para a carta dos escritores.

A Hachette não aceitou a política feroz de descontos da varejista e sua tentativa de aumentar a margem de lucro na venda de e-books (de 30% para 50%, estima-se).

Para pressionar a editora, a Amazon passou a dificultar as vendas de livros de autores representados por ela, atrasando as entregas e eliminando a possibilidade de pré-vendas. J.K. Rowling (criadora de "Harry Potter") foi uma das autoras afetadas.

Douglas Preston, também publicado pela Hachette, tomou a iniciativa de compor uma carta em protesto e ganhou apoio da comunidade literária.

Na carta, os escritores convocam os leitores a entrar em contato com Bezos e "dizer a ele o que pensam sobre isso".

No último sábado (9), antes mesmo de o golpe ser dado, a Amazon já contra-atacava. Divulgou uma mensagem incentivando seus clientes a enviar e-mail ao diretor-executivo da Hachette, Michael Pietsch, para pressioná-lo a fazer um acordo.

A Amazon disse que "nunca desistirá" de lutar por "preços razoáveis". O site tenta reduzir os preços dos e-books da Hachette para US$ 9,99 (de R$ 22,6), enquanto a editora quer cobrar mais.

O diretor-executivo da Hachette afirmou por e-mail à Folha que US$ 9,99 não é um preço adequado a todos os livros.

"Essa disputa começou porque a Amazon está buscando muito mais lucro, em detrimento dos autores e das editoras", comentou. "Mais uma vez, pedimos que a Amazon retire as sanções. Queremos negociar de boa fé."

Além de livros, a Amazon oferece uma vasta gama de produtos: cortador de grama, brinquedos, fraldas, sapatos. Todos são fáceis de encomendar e chegam rápido. É um consenso que a Amazon instaurou um novo padrão de eficiência. O que o mercado pergunta agora é o preço que se pagará por isso.


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