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Gregorio Duvivier

O palhaço Grock

Robin Williams não sabia rir. Quando puxava os lábios em direção às orelhas, seus olhos caíam

Em sua autobiografia, Groucho Marx conta a história de um homem que vai ao médico porque sofre de uma depressão incurável. "Sou o homem mais triste do mundo", ele diz. O médico lhe receita um bom show de humor. "É infalível". O homem diz que não adianta, nada lhe faz rir. O médico então sugere uma visita ao circo da cidade, onde está se apresentando o melhor palhaço do mundo. "Não há depressão que resista a um show do palhaço Grock." Ao que o homem responde, inconsolável: "Eu sou o palhaço Grock."

O comediante é sempre convidado pra festas. Os anfitriões costumam achar que ele vai ser a alegria da noite. Nunca é. Em geral, o comediante não dança, não ri, não relaxa. Fica num canto, escondido, julgando a todos e a si mesmo. Aquela voz interior não cala a boca: "Isso é ridículo. Você é ridículo. Nada disso faz sentido. Você não faz sentido." Não sei dançar sem pensar sobre como a minha dança está ridícula e sobre como todos estão comentando que a minha dança está ridícula. Preciso beber muito para esquecer que não faz sentido nenhum mexer os ossos ritmadamente.

Robin Williams é o ser humano que mais me fez chorar na vida. Quando meus pais se separaram, assistia a "Uma Babá Quase Perfeita" cem vezes por semana. Não era fácil assistir um filme cem vezes --naquela época tinha que rebobinar. Minha parte preferida era quando ele dizia, olhando para a câmera: "Se os seus pais não se amam, não significa que eles não te amam mais". Eu chorava, chorava, chorava. Obrigado, Robin Williams.

Quando vi "Aladdin", quis ser o gênio da lâmpada. Quando vi "Sociedade dos Poetas Mortos", quis ser professor. Quando vi "Gênio Indomável", quis ser psicanalista. Até que percebi que não queria ser nada disso. Queria ser Robin Williams (até que eu vi "Patch Adams" e desisti de ser Robin Williams. Filme ruim da porra).

Robin Williams não sabia rir. Quando puxava os lábios em direção às orelhas, seus olhos caíam junto. Metade do rosto ria, a outra metade pedia socorro.

Só se faz um samba com tristeza. A boa piada precisa de inteligência e de desgraça. Piada sem desgraça é uma tristeza. Piada sem inteligência é uma desgraça.

Uma boa piada pode resolver, por alguns segundos, os problemas do mundo inteiro --a não ser, é claro, os do próprio humorista. O humor não resolveu os problemas de Robin Williams.

Oh, captain, my captain: nós vamos continuar te amando. Mesmo depois de "Patch Adams".


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