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Megaestruturas voltam a ser tendência

Movimento arquitetônico dos anos 1960 que imaginava cidades utópicas influencia nomes como Sou Fujimoto

Enquanto o japonês constrói no país, mestre dessa escola, Yona Friedman, tem mostra em centro cultural de SP

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Quando construiu seu pavilhão para a Serpentine Gallery, em Londres, o arquiteto japonês Sou Fujimoto, 43, quis tornar real o que chama de "paisagem transparente".

Esse projeto do ano passado, uma estrutura vazada de hastes metálicas construída na mata que rodeia o museu londrino, alçou o arquiteto à condição de visionário, jogando luz sobre o resto de suas obras que tentam, com plasticidade exuberante, fundir arquitetura e natureza.

Mas a raiz da obra de Fujimoto, hoje um queridinho da crítica que se prepara para construir uma casa em São Paulo, está bem plantada em ideais dos anos 1960, a chamada era das megaestruturas na arquitetura.

Yona Friedman, 91, arquiteto húngaro que é um nome de peso dessa escola utópica, famosa por imaginar --e nunca construir-- enormes estruturas suspensas sobre as cidades, faz agora uma mostra na Casa do Povo, em São Paulo.

Juntos, Friedman e Fujimoto representam épocas distintas de um mesmo pensamento arquitetônico, a ideia de estruturas que se multiplicariam ao infinito quase como células num tecido orgânico, o que os japoneses chamaram de arquitetura metabolista.

Também sinalizam o retorno das megaestruturas ao centro do debate arquitetônico atual como inspiração para soluções em cidades travadas pelo trânsito e convulsionadas por ondas de revolta.

No Brasil, a reabilitação dessa tendência passa pelo resgate da obra de Sérgio Bernardes, arquiteto morto aos 83 em 2002, que imaginou o Rio como metrópole supersônica, com bairros verticais em torres de 600 metros.

"De certa forma, esse experimentalismo voltou a reinar na arquitetura", analisa o crítico Guilherme Wisnik. "O Friedman é um cara importante dessa época, suas ideias utópicas estão na moda."

Entre elas, a concepção de cidades mais maleáveis, que possam ser moldadas a cada dia por seus habitantes. "Não são os prédios que importam numa cidade, mas como as pessoas usam o seu espaço urbano", afirma Friedman.

"Quando Paris se candidatou para sediar os Jogos Olímpicos, sugeri que usassem a avenida Champs-Elysées como estádio. Devemos pensar em como várias funções podem ocupar um só espaço."

Nesse sentido, Friedman já imaginou cidades inteiras na forma de cubos móveis suspensos sobre terrenos livres e casas em que o teto e as paredes podem mudar de lugar.

"Ele é o arquiteto das utopias realizáveis", diz Benjamin Seroussi, diretor da Casa do Povo. "Qualquer um pode criar arquiteturas. Ele não constrói, dá as ferramentas."

Talvez por habitar a esfera das proposições que não saem do papel, Friedman tenha sido abraçado cada vez mais pelo circuito das artes visuais, estando mais para artista do que para arquiteto.

'FLORESTA FLUTUANTE'

Na outra ponta do espectro, a obra de Fujimoto, embora ancorada na extravagância conceitual de arquitetos como Friedman, chama a atenção por existir muitas vezes como construção real e não só um sonho no papel.

"Mesmo que a ideia pareça irreal, todos os meus projetos são concebidos para fazer parte do mundo real", diz Fujimoto. "Tento enxergar um futuro em que a geometria da natureza e a geometria do artificial se encontram."

Tanto que a casa que ele vai construir em São Paulo, dentro de um condomínio que ocupa uma antiga fazenda na zona sul da cidade, foi pensada como uma "floresta flutuante tridimensional".

Não foge muito de outras obras que construiu mundo afora, como uma casa em Tóquio com salas transparentes suspensas como frutas em galhos de uma árvore ou seu pavilhão no parque de Londres, que críticos compararam aos desenhos de Friedman.

"Ele é grandioso, cheio de visões do futuro", diz Fujimoto sobre o húngaro. "Desde que comecei, olho para modernistas como ele para tentar criar novos estilos de vida."


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