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Lustre feito de absorventes chega ao país após censura

Vetada em mostra na França, obra de Joana Vasconcelos está agora em SP

Escultura com 25 mil tampões é abre-alas de mostra no CCBB que discute reciclagem de objetos banais da vida

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Um enorme lustre adorna o átrio do Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Suas formas clássicas e seu leve brilho não destoam do interior suntuoso desse prédio construído em 1901.

Mas esse não é um lustre convencional. Em vez de cristais, 25 mil absorventes femininos compõem a estrutura.

Essa obra da artista portuguesa Joana Vasconcelos já esteve na Bienal de Veneza e quase foi parar num dos salões do Palácio de Versalhes, na França, mas a direção do lugar vetou sua instalação.

Vasconcelos, agora o abre-alas da mostra "Ciclo", disse que esta única obra foi vetada de sua individual em Versalhes, há dois anos, por ela "ser uma mulher falando de coisas de mulher" e que isso desagradou a direção do palácio.

"Mas não espero nenhuma censura no Brasil", diz a artista. "É um país com uma cultura muito particular e por vezes até paradoxal em relação a tradição e costumes."

Visto de longe, seu lustre é quase inócuo. Quem sabe que são absorventes ali às vezes para embaixo da estrutura e fica tentando imaginar quantos anos uma mulher teria de viver para usar tudo aquilo --uma assessora da mostra arrisca ser quase dois séculos.

Ciclos menstruais à parte, é outro ciclo que dá nome à mostra. Inspirada no centenário das ações iconoclastas de Marcel Duchamp, artista que levou um urinol ao museu e desde então redefiniu os parâmetros estéticos que regem a arte, a exposição arregimenta uma série de artistas que reciclam objetos banais.

Nas palavras do curador Marcello Dantas, as obras refletem o "descarte programado" da sociedade de consumo e o "excesso que se tornou marca do nosso tempo".

De palitos de dente articulados em estruturas enormes, obra da uruguaia Julia Castagno, a um vasto campo esbranquiçado feito de copinhos de plástico, peça da norte-americana Tara Donovan, tudo se transforma em paisagens etéreas e alucinantes.

Nessa vertente mais alucinógena, a também americana Petah Coyne triturou um trailer numa máquina que desfia estruturas metálicas para criar o monstro reluzente e fibroso que pendurou do teto de uma sala do museu.

ARMAS MUSICAIS

Mas há um lado mais brutal dessas transformações. Pedro Reyes, artista mexicano também na mostra, usou metralhadoras e revólveres para construir instrumentos musicais mecanizados, ou seja, que tocam sozinhos numa espécie de banda fantasma.

"É uma mudança de polaridade", diz Reyes. "A arte é um processo alquímico. O que me interessa aqui é a transformação física do metal, um agente de morte que se torna um agente de vida."


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