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Deborah Colker traz sua 'Bela da Tarde' revolucionária a SP
Novo espetáculo da coreógrafa carioca, 'Belle' é inspirado em livro de 1928 que gerou filme de Buñuel
Dança sobre mulher casada que passa as tardes num bordel estreia na temporada de dança do Teatro Alfa
Pornográfico e patológico. Estas foram as críticas ao livro sobre a bela e bem casada burguesa que, durante as tardes, trabalhava como prostituta num bordel.
"A Bela da Tarde", de Joseph Kessel (1898-1979) foi lançado em 1928, mas esse embate entre instinto e convenções sociais não é datado, segundo a coreógrafa Deborah Colker, que se inspirou na história para criar seu último trabalho, "Belle".
"Quando meu marido leu o livro, comentou: Essa mulher é uma vagabunda'. E isso em 2012", diz Colker.
Na interpretação da coreógrafa, Séverine (o nome da bela) é uma revolucionária, que enfrenta o mundo social no submundo erótico. Tudo por amor ao marido, segundo Colker.
"Será que só eu me apaixonei por Séverine?", pergunta a coreógrafa.
Mas ela sabe que não foi a primeira a se apaixonar pela personagem. Em 1967, o cineasta Luis Buñuel (1900-83) escolheu a linda e chique Catherine Deneuve para viver a dama que se joga na lama.
Colker também buscou tratar o erotismo em alta voltagem da história com elegância. "É um espetáculo sobre a condição humana, não é putaria."
SEXTA 13
Mesmo assim, sabe onde se meteu. "Teve um momento em que tive de lembrar aos bailarinos que o mundo do instinto passa longe da Disneylandia. É um mundo secreto, perigoso."
Ela diz que esse é seu único espetáculo com classificação etária (14 anos). Mas insiste que não há nada de apelativo. "Mas tem gente que não está interessado na tensão erótica, não quer atravessar a ponte entre a razão e a paixão."
Os fantasmas do inconsciente resolveram se materializar na estreia de "Belle" no Rio, em junho, numa sexta-feira 13.
Durante a apresentação, morcegos invadiram o palco. Os bailarinos mantiveram a pose e continuaram dançando como se nada tivesse acontecido --o que levou muita gente a acreditar que os mamíferos voadores fizessem parte da coreografia.
Na montagem, a coreógrafa usa outras simbologias para lembrar que existem mais mistérios entre o corpo e o espírito do que sonha nossa fantasia.
Os bailarinos passam dos trajes sociais às roupas íntimas. As meninas, que começam a dança na sapatilha de ponta, sobem no salto e se vestem/despem com os espartilhos transparentes criados pelo figurinista Samuel Cirnansck. A ação que começa no sofá da sala de estar sobe à barra da pole dance.
Na trilha sonora, "Venus in Furs", do Velvet Underground, o jazz de Miles Davis e a música eletrônica de Berna Ceppas. Porque, enquanto Colker defende a Séverine da acusação de ser uma vagabunda, parece não ter nenhuma dúvida de que a bela é totalmente pop.