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Quebrada leva gíria de pipa, candomblé e 'flashmob' à Bienal

Com ajuda de coletivos locais, evento agrega artistas do Campo Limpo e faz oficinas e sarau na favela do Moinho

Atrações tomam a área externa do pavilhão às quartas e aos domingos; 'tentamos abraçar a cidade', diz curador

RAFAEL GREGORIO DE SÃO PAULO

"Best-seller da quebrada", Luan Luando, 26, é mito local desde que sua estreia literária esgotou as 500 cópias em dois meses. Lança em breve seu segundo livro, "O Relo", que sucede "Manda Busca" e será seguida de "Tá na Mão", em trilogia que evoca gírias de empinar pipa, brincadeira ainda comum no Campo Limpo, região sul de São Paulo.

Thiago Vinicius da Silva, 25, voz da Agência Popular de Cultura Solano Trindade, emociona-se ao falar dos poetas, bailarinos, músicos e grafiteiros do lugar onde cresceu.

"Penso no meu irmão, morto pela polícia em uma saidinha' de banco. Tiramos a comunidade das páginas policiais e colocamos nas de cultura", afirma.

Artistas de zonas pobres da capital estão na Bienal. No domingo (7), Aderbal Ashogun lidera a performance "Treme Terra Esculturas Sonoras", que une percussão, poesia e candomblé e é descrita como um "flashmob ancestral".

"Não é possível explicar os tempos atuais só com polos formais' de arte", afirma o francês Benjamin Seroussi, 34, curador associado.

A ponte com os extremos da capital foi obra do setor educativo da Fundação Bienal, que mantém ações didáticas. Já a favela do Moinho, coprotagonista da onda social, foi apresentada pela artista Graziela Kunsch ao espanhol Pablo Lafuente, 38, um dos curadores.

Após meses de visitas, ele identificou "uma potência criativa que escapa aos nossos olhos". Para operá-la, diz, foi preciso chamar reforços.

EXTREMOS

Um deles é a Solano Trindade. Desde 2009 no Jardim Maria Sampaio, na zona sul, ajuda artistas em fomento, produção e comercialização.

Como Luando, leitor de Leminski e Manoel de Barros que despontou no Sarau do Binho. Os versos o levaram ao exterior pela primeira vez, em maio, quando 180 poetas "periféricos" foram à Feira do Livro de Buenos Aires.

Robson Padial, 49, o Binho, também foi à Argentina. Há dois anos, quando a prefeitura fechou o bar onde ele fazia a reunião, os cerca de mil colaboradores da Solano Trindade ajudaram a mantê-la em teatros e praças, unidades do Sesc e eventos, como a Bienal do Livro e, agora, a de arte.

Além dele, a Bienal terá 19 atos de poesia, teatro, dança e funk indicados pela Solano Trindade. Em setembro, um destaque é o balé da Associação Capão Cidadão, com meninas de cinco a 16 anos.

Arte e política também andam juntas na parceria entre projeto Comboio e Movimento Moinho Vivo, que atuam na favela do Moinho, no centro de São Paulo. O lugar terá workshops de arte e um sarau no desfecho, em dezembro.

VERMELHÃO

"Nossa arte é informar o mundo sobre o que acontece aqui", define o urbanista Caio Castor, 31, do Comboio. Desde 2010, o grupo fez melhorias em ocupações de sem-teto até se fixar no Moinho, onde Castor hoje reside.

Em janeiro, o projeto criou um parque, o Vermelhão, em área destruída no último incêndio. A Bienal vai render reforma do campo de futebol.

O social reverbera em artistas da mostra, como Armando Queiróz, que aborda questões indígenas, o coletivo Mujeres Creando, de enfoque feminista, e Juan Pérez, cujo filme "Letra Morta" foi feito em Cidade Tiradentes.

A articulação de tradição e rua evoca os choques entre pichadores e a Bienal de SP, em 2008, e a de Berlim, em 2012. Esta curadoria, porém, não se intimida. "Esta é a Bienal do conflito, vemos nisso algo transformador. Não deve ser apagado, mas preservado", diz Seroussi.


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