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Luxúria lírica

'Salomé', ópera de Richard Strauss, leva erotismo e violência ao Municipal de SP

GISLAINE GUTIERRE DE SÃO PAULO

Jovem, bela, ardilosa. A personagem que chocou plateias ao fazer uma dança erótica para seu padrasto e depois beijar a cabeça decepada do homem que a desprezou ocupa o Theatro Municipal na ópera que leva seu nome: "Salomé", de Richard Strauss.

"Em 1907, a ópera chegou a ser retirada do Metropolitan, tamanho foi o escândalo", afirma o maestro John Neschling, que rege a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo nas sete récitas.

"Salomé", com música de Strauss (1864-1949) e libreto de Hedwig Lachmann, é baseada na peça homônima de Oscar Wilde (1854-1900).

Por sua vez, o escritor irlandês se inspirou na passagem bíblica em que Salomé, enteada de Herodes, pede a cabeça do profeta João Batista em uma bandeja de prata.

A "Dança dos Sete Véus", em que Salomé (Nadja Michael e Annemarie Kremer se revezam no papel nas récitas) dança para Herodes em troca de ter qualquer pedido seu atendido, terá "uma quase nudez, com transparência nas roupas ou pouca luz", como diz a diretora cênica Livia Sabag. "É um jogo de insinuação."

Nesse momento, o cenário de cores escuras, que remete ao deserto e mostra o palácio de Herodes "enterrado", vai se abrir para dar vez a uma espécie de termas, com espelho d'água e vitrais.

Sete bailarinas do Balé da Cidade, com véus, participam da cena. "Elas provocam e confundem Herodes até o momento em que ele acha Salomé entre elas", diz Sabag. A partir daí a cena fica mais onírica, no que ele imagina a partir da dança dela.

Se essa passagem tem a maior profusão de cores no cenário, no final o vermelho predomina. É o sangue que jorra da cabeça de João Batista, cenicamente realista. "Duas cabeças foram criadas a partir da fisionomia dos dois cantores que se revezam no papel", diz Sabag.

RADICAL

Para Neschling, embora "Salomé" seja intensa do ponto de vista cênico, talvez a música de Strauss ainda seja mais impactante para o público atual do que a história.

O músico e professor Sergio Molina diz que "Salomé" é a mais radical entre as óperas de Strauss. "Há momentos em que a música está associada à própria complexidade e à tensão da cena como um todo, e tem horas em que ela mostra o universo interior do personagem, que nem sempre está de acordo com a cena", diz Molina.

Um exemplo é a passagem em que Salomé beija a cabeça de João Batista. "A cena é envolvida por uma música romântica, sem tensão nenhuma e maravilhosa, de final feliz", diz. Simboliza a satisfação pessoal dela, apesar do horror da situação em si.

"É pouco provável que o público saia cantarolando uma melodia", brinca Neschling.

O maestro sugere que o público ouça a obra como um todo musical, em que os protagonistas são usados quase como instrumentos. "A textura orquestral é às vezes mais importante do que os cantores. O efeito geral é impressionante e inesquecível."


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