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Paglia inclui 'Star Wars' na história da arte

Ensaísta americana trata da saga de George Lucas em livro sobre 29 obras representativas da cultura visual

Para autora, grandes projetos foram feitos ao custo da injustiça social e a pintura hoje perde status diante do digital

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

"O mercado de arte hoje é um espetáculo grotesco de pretensão e ganância. Artistas de destaque se tornaram marcas, promovidos como empresas comerciais lucrativas."

A avaliação é da ensaísta Camille Paglia, 67, professora de humanidades e estudos de mídia da Universidade das Artes da Filadélfia (EUA). Para ela, "obras de arte viram notícia apenas quando são roubadas ou leiloadas por alguma quantia obscenamente alta".

Conhecida por textos polêmicos, Paglia está lançando no Brasil seu livro "Imagens Cintilantes - Uma Viagem Através da Arte desde o Egito a Star Wars". Nele, percorre a história das artes plásticas, a partir de 29 obras representativas de movimentos, estilos e contextos sociais.

À Folha, ela lembra que obras grandiosas como as pirâmides, no Egito, foram feitas para glorificação de governos ou religiões, "quase sempre construídas em períodos de grande desigualdade entre a classe dominante e os que fizeram o trabalho real".

Imensos recursos foram desviados de necessidades básicas para erguer monumentos. "A grande beleza tem sido frequentemente atingida ao custo da injustiça social."

Paglia define o rococó como "totalmente divorciado da realidade social". Seu exemplo é o Hôtel de Soubise. Enquanto era erguido com exuberante ornamentação em Paris, a fome grassava, criando bases para a Revolução Francesa.

Algum paralelo com a ostentação dos dias de hoje? "Ironicamente, os valores estéticos durante o frívolo e decadente rococó eram muito mais honrados do que no mercado de arte de hoje", afirma.

Para o livro, a autora conta que escolheu obras que tivessem impacto dramático para o público que não vai regulamente a museus ou estuda arte. Suas escolhas também foram motivadas por sua crença na "espiritualidade da arte".

Paglia constata com aflição a avalanche tecnológica de computadores e celulares e a vertigem que isso provoca. "O senso estético está sendo assaltado e entorpecido. O cérebro humano não pode absorver e processar tantos constantes e erráticos estímulos", diz.

PERDA DE STATUS

Paglia levou cinco anos para escrever o livro. A grande dificuldade foi encontrar algo original na arte contemporânea que pudesse ser comparado às obras-primas que descrevia no seu passeio por séculos de história. "Nada autenticamente importante e permanente estava sendo feito no mundo das artes plásticas."

Ele observa que nos últimos 20 anos muitos jovens talentosos enveredaram para a mídia digital. "Os gêneros tradicionais das artes plásticas, especialmente a pintura, estão perdendo status cultural", diz.

Numa madrugada, topou com os filmes da saga "Star Wars". Diz que ficou atordoada com os "avanços de George Lucas na animação digital e na sua capacidade de tratar emoções com profundidade".

"O longo final de A Vingança dos Sith' supera praticamente tudo o que foi produzido nas artes plásticas nos últimos 30 anos", afirma.

"O clímax desse filme ocorre em um ardente e apocalíptico planeta e é tão tempestuosamente apaixonado quanto uma ópera de Puccini. Há um tremendo duelo que termina na criação terrivelmente horrível de Darth Vader, o mal, meio imperialista robótico, uma das principais contribuições de Lucas à mitologia."


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