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Opinião

Escritora repetia fórmula, mas cativava ao contar histórias

BARBARA GANCIA COLUNISTA DA FOLHA

Saia da frente Stephen King, abra alas, Paulo Coelho: desculpem, mas venho aqui falar de peixe grande. Não de quem se contenta com a merreca de 500 milhões de cópias vendidas como vocês.

Isso é coisa de iniciante para Agatha Christie, que vendeu ao menos 2 bilhões de exemplares. A autora de histórias de detetives perde apenas para a Bíblia e Shakespeare.

Nestes dias, três editoras tapuias, a L&PM, a Nova Fronteira e a Globo, estão relançando algumas de suas obras mais vistosas. Você me perguntará: "Ora, Barbara, mas nos dias que correm, por que o público se interessaria por mistérios manjados? Todo o mundo já sabe que não foi o mordomo que matou!".

Pois é, eu me pergunto a mesma coisa. Os críticos de Agatha Christie (1890-1976) dizem que ela repetiu a mesma fórmula em seus romances, que usou a mesma estrutura de enredo, em que o detetive ou um membro do baixo clero ouvem uma conversa no corredor e pimba!

Na próxima cena os suspeitos aparecem reunidos numa sala; entra o detetive, há um balanço geral e, numa reviravolta, derruba-se um álibi consistente e o criminoso é desmascarado.

Note que a própria Christie admitia desgostar profundamente de Hercule Poirot, seu icônico detetive belga.

Pé de pato, mangalô três vezes. É só o Poirot pisar num trem ou numa excursão pelo Nilo para alguém ficar a fim de puxar um gatilho. Ô, homem zicado.

É quase impossível solucionar os casos intricados em que se envolve Poirot, porque Christie parece montar o quebra-cabeça de trás para frente. Como se elaborasse seu mistério começando pelo crime e indo em direção ao início da história.

Só ela e o detetive sabem da conversa atrás do arbusto da qual só vamos ouvir falar na última cena.

Queremos saber por que uma mulher da antiga que conta sempre a mesma história e nunca desafiou o leitor com um vocabulário um pouco mais elaborado pode ter perdurado. Recebi na minha casa a edição de "Três Ratos Cegos" (Globo) que talvez ajude a matar a charada.

A própria Christie fez a adaptação desse texto para o teatro a pedido da rainha Mary, avó de Elizabeth 2ª. No processo, o nome foi mudado para "A Ratoeira". Sim, ela mesmo, a peça que está em cartaz há mais tempo na história. São 62 anos, 40 dos quais ininterruptos, no St. Martin's Theatre de Londres.

Taí seu apelo. Que, por acaso, é o mesmo dos outros recordistas de vendas. Aos recordes e aos cifrões, sobretudo, não importa a qualidade do verso e/ou da prosa. Isso é outro departamento.

Para a grande maioria, conta mesmo é a capacidade de cativar na hora de contar uma história.


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