Folha de S.Paulo

Análise

Lineu e Nenê de Nanini e Marieta são os pais que todos queriam

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

"A Grande Família" é caso raro de um remake que supera o sucesso do programa original. Enquanto o seriado dos anos 1970 tinha sua força maior no texto, o que termina hoje é ancorado em grandes intérpretes.

A primeira versão teve seus primeiros roteiros escritos pelo ator e dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (1936-1974), Armando Costa e Max Nunes (1922-2014).

Sob a ditadura, Vianinha tentou inserir ironia e crítica social na série e recebeu muitos cortes da censura, a maioria envolvendo o personagem do filho mais velho, Júnior (excluído do remake). Com sua morte, outro autor de teatro, Paulo Pontes (1940-1976), assumiu os roteiros.

A "segunda família" teve roteiros impagáveis, principalmente nas primeiras temporadas, com as tramas restritas ao núcleo familiar --e o engraçado Beiçola, sucesso desde o episódio de estreia.

Na abertura posterior para novos personagens, a série ficou irregular, mas o par central seguiu impecável.

Lineu e Nenê são os pais que todos gostariam de ter. Ele é íntegro, sábio e justo. Ela, carinhosa, preocupada e disposta a fazer tudo pelos filhos.

São dois clichês, sim, e não passariam disso sem Marco Nanini e Marieta Severo, que criaram tipos adoráveis.

Em 14 anos, outros atores ficariam definitivamente presos a personagens tão atraentes. Mas Nanini e Marieta viveram o casal do subúrbio enquanto tocavam belas carreiras no teatro e no cinema.

Pedro Cardoso teve vida mais difícil com Agostinho, segurando por tanto tempo um personagem tão patologicamente trambiqueiro que poderia cair na caricatura.

Fora da família, destaque para Andréa Beltrão (a vizinha Marilda), que foi para "Tapas & Beijos", e Evandro Mesquita, um subestimado ator que criou o mecânico nada inteligente Paulo Wilson.

Quando esse elenco encontrou o texto certo, "A Grande Família" beirou a perfeição.