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Mauricio Stycer

Jornalismo de fofoca

Se Jô Soares fosse um personagem da ficção, ele teria sido vítima das maldades de Téo Pereira

Ao receber Paulo Betti em seu programa nesta terça-feira (9), Jô Soares conseguiu sintetizar todo o incômodo que sentiu com as fofocas e boatos difundidos a seu respeito nos últimos tempos.

Jô, como se sabe, ficou ausente da televisão por mais de 40 dias devido a problemas de saúde que o levaram, primeiro, ao hospital e, depois, a um período de recuperação em casa.

O desejo de resguardar a privacidade neste momento íntimo foi colocado em xeque pela onda de "notícias" publicadas a respeito do seu estado. Blogs, sites de revistas especializadas e programas vespertinos de TV foram o terreno preferencial em que essas especulações nasceram e se proliferaram.

Já Betti, como também é notório, está em evidência neste momento por interpretar um dos personagens mais marcantes, ainda que secundários, na trama de "Império", a principal novela da Globo hoje no ar.

Ele vive Téo Pereira, um jornalista especializado em fofocas, cujo blog é uma referência para o público interessado em "bastidores" sobre a intimidade dos famosos e dos ricos.

A entrevista com Betti serviu mais como veículo para Jô repetir a reclamação que havia feito, na véspera, ao retomar o programa, sobre a irresponsabilidade de publicações feitas com base em relatos de fontes secundárias.

Lembrou que, durante o período no hospital, recebeu uma visita do oncologista Drauzio Varella, seu amigo, o que ajudou a espalhar o boato de que estaria com câncer. "Quer dizer que se o Drauzio fosse ginecologista, eu estaria tendo um aborto!''

A julgar pelo que Aguinaldo Silva tem mostrado em "Império", se Jô Soares fosse um personagem da ficção, Téo Pereira certamente teria dado fluxo a boatos sobre o seu estado de saúde.

Desenhado com tintas caricatas, Téo Pereira é um gay muito afeminado, que abusa dos gestos e caretas ao falar. Sua principal preocupação é encontrar notícias que elevem a audiência de seu blog. "Isso vai dar muitos cliques", costuma dizer ao tomar conhecimento de alguma fofoca.

O blogueiro também é apresentado com um tipo vingativo, alcoólatra e frustrado, além de mau-caráter. Já ameaçou fazer chantagem com uma ricaça para não publicar determinada notícia e contratou um capanga para roubar documentos que comprovam a homossexualidade de um personagem que se diz heterossexual.

O exagero na composição de Paulo Betti produz uma espécie de alívio cômico para um personagem que, nos padrões do folhetim, é um vilão clássico. Não creio, porém, que o objetivo seja justificar de alguma forma o comportamento de Téo Pereira, mas sim torná-lo ainda pior aos olhos do público.

A conversa de Jô com Betti deixou a desejar por evitar uma questão central: o papel da própria Globo como fonte de estímulo à invasão de privacidade --um forninho que aquece ou requenta as melhores e piores fofocas.

Não preciso nem falar da revista e do site do grupo dedicados a escarafunchar a vida dos famosos. Téo Pereira deve adorar, também, várias atrações da emissora, como o "Arquivo Confidencial", no Faustão, por exemplo, dedicadas a expor a vida de seus artistas e arrancar lágrimas dos espectadores.


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