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'Terra de Ninguém' desconstrói personagens

Adaptação de Pinter por Roberto Alvim desnorteia público com várias trocas de papéis

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A cena inicial de "Terra de Ninguém", espetáculo inédito de Harold Pinter que estreia hoje sob direção de Roberto Alvim, é a preparação de uma rasteira. A primeira de uma série de passadas de pernas que o autor inglês prepara para seu público.

A apresentação de Spooner e Hirst (Luis Melo e Edwin Luisi) ao espectador é clara. É tarde da noite, os dois homens trocam amabilidades na casa de Hirst, após se conhecerem num bar. A fragilidade de ambos é revelada nos diálogos que escancaram a solidão de suas trajetórias.

Mas como em Pinter nada é o que aparenta ser, o entendimento do público sobre os dois homens não demora a ruir. Na cena seguinte e nas que se sucedem, o autor dedica-se a demolir constantemente as certezas do espectador.

Spooner e Hirst passam a protagonizar uma vertiginosa troca de papeis em um jogo de poder, do qual também participam outros dois jovens, interpretados por Caco Ciocler e Pedro Henrique Moutinho. Os quatro alteram-se a todo momento nas figuras de opressor e oprimido.

Pinter desnorteia o espectador ao sugerir várias identidades para os personagens, que até mudam de nome.

"Não há sujeito ou identidade, mas a construção de ambos a cada cena. O espetáculo é uma máquina paranoica de inscrições e apagamentos", afirma o encenador.

"Terra de Ninguém" espelha a instabilidade do homem. "A incerteza é da nossa natureza", observa Alvim. Para Luis Melo, "o homem é fragmentado, e muda de acordo com cada situação".

O diretor potencializa o jogo desestabilizador com iluminação crepuscular e uma encenação que parte do realismo e se afasta progressivamente dele. "O espetáculo vai entrando num delírio, que faz com o que público saia do teatro sabendo menos sobre aqueles personagens do que ao entrar", declara Alvim.


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