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Entrevista - Heitor Martins

'Vamos reabrir o Masp à sociedade', diz novo presidente

RECÉM-ELEITO PARA LIDERAR MAIOR MUSEU DO PAÍS ANUNCIA MUDANÇA NA CURADORIA E NA GESTÃO DO ACERVO E QUER MUDAR BILHETERIA

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Em seus primeiros dias à frente do Masp, Heitor Martins fala em "renovar" e "reabrir à sociedade" um museu "desconectado, que não seguiu a evolução dos tempos".

Recém-eleito presidente do museu, o empresário adiantou à Folha que vai mudar o núcleo que define a linha conceitual das mostras do Masp --substituindo o atual curador Teixeira Coelho--, concluir as obras paralisadas de seu anexo --com a ideia de deslocar a bilheteria do museu para o prédio ao lado-- e criar uma nova política para o acervo.

Martins, 46, assume a presidência num momento de crise do museu, que tem dívidas de R$ 12 milhões, problemas na prestação de contas com o Ministério da Cultura e pendências com a Vivo, parceira da instituição na construção de um anexo ainda em obras.

Desde o ano passado, o empresário, que já presidiu a Fundação Bienal de São Paulo, lidera esforços para neutralizar a velha diretoria do Masp, grupo ligado ao arquiteto Júlio Neves que se revezava no comando do museu havia 20 anos, e implantar ali o que chama de "novo modelo de governança".

Em sua primeira entrevista como presidente do Masp, Martins detalhou seus planos de dar vida nova ao maior museu da América Latina.

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Folha - Quais são as prioridades de sua gestão à frente do museu? O que é mais urgente?
Heitor Martins - Tudo começa com uma maior estabilidade financeira e com o que eu chamaria de readequação administrativa. O museu precisa ter assegurados os recursos para o seu dia a dia e precisa ter uma máquina administrativa que funcione. Essa é a base de tudo.

A gestão anterior fracassou?
Não posso falar sobre o passado. Mas esse é um problema típico de instituições do porte do Masp. Mais de 90% do orçamento [de R$ 19 milhões ao ano] vem de fora, de patrocínios, de doações, mas o museu nem tinha uma área de captação de recursos. Isso dá um exemplo de como a organização estava desconectada e não seguiu a evolução dos tempos.
Estamos fazendo uma abertura do museu para a sociedade, uma reaproximação, já que instituições que têm uma tradição e uma cultura muito fortes às vezes passam por um momento em que se voltam para si mesmas. A espinha dorsal do nosso projeto é mudar isso.

Como está a situação financeira do Masp neste momento?
A dívida do museu é da ordem de R$ 12 milhões, sem incluir pendências relativas ao prédio do anexo. Com o aporte de conselheiros, associados e patronos, arrecadamos R$ 10 milhões. Isso vai ser usado para sanar essa dívida e estabilizar o caixa.

Na renovação do conselho, assentos foram criados para representantes do poder público, algo que o Masp sempre rejeitou. O que esperar da aproximação com o governo?
Temos uma visão muito clara e serena. O Masp é uma instituição privada, que nasceu e vai continuar privada.
Mas o objetivo dessa instituição é de interesse público, então é legítimo que as entidades governamentais tenham participação na gestão e possam colocar sua voz e seu ponto de vista, assim como é legítimo o museu perseguir apoio do governo.

Um dos pontos críticos da situação do museu hoje é a paralisação das obras do anexo por falta de verbas. Como será resolvida a questão?
Vemos o anexo como parte da solução. Se a gente quer um museu capaz de atender um público maior, é preciso expandir sua área.
A entrada do museu poderia ser pelo anexo, por meio de uma ligação com o museu por um túnel ou passarela, de modo que a bilheteria saia do vão livre e seja criada uma entrada de maior fluxo.
Ninguém gosta da bilheteria no vão livre, que seria muito mais bonito se ele fosse de fato livre. A viabilização do anexo, então, é o grande passo arquitetônico que o museu deve dar nos próximos anos.

Neste ano, Lina Bo Bardi, a arquiteta que desenhou o Masp, faria cem anos. Seu projeto para o museu, no entanto, foi sendo desmantelado pela gestão anterior. É possível voltar a usar seus cavaletes de vidro?
A gente gostaria de ver uma aproximação do museu com o seu passado, com os pontos levantados pela Lina, incluindo a ocupação do vão livre com exposições e concertos. Os cavaletes fazem parte da discussão. Todos nós nos lembramos deles.
Mas há questões técnicas vinculadas a isso, e é parte do trabalho do curador determinar o uso dos cavaletes.

Nomes vêm sendo sondados para assumir o cargo de curador do museu. Que mudanças haverá nesse departamento?
Antes de qualquer coisa, é preciso fazer um reconhecimento ao Teixeira Coelho, que nos últimos sete anos, num cenário adverso, ajudou a manter o museu vivo.
Ao mesmo tempo, a gente vem falando sobre realizar uma mudança na curadoria e chegamos à visão de que a gente deve trazer um novo grupo de curadores, inclusive estrangeiros, ao museu.

Como será essa nova linha de curadoria do Masp?
O museu tem um acervo vastíssimo, mas achamos que esse acervo precisa ser melhor explorado. A ideia é que o novo curador trabalhe melhor as obras, que as use como ponto de partida para um diálogo com a contemporaneidade. Uma coleção clássica só é interessante na medida em que ela nos ajuda a entender o mundo de hoje.

Que medidas serão tomadas na gestão da coleção?
O acervo precisa ter políticas para aquisições, doações e de refinamento. Não pode ser um depósito de coisas que se acumulam. As obras que entram têm de fazer sentido, mas essas políticas nunca foram muito bem definidas.
Precisamos pensar em refinar esse acervo. Muitas coisas entraram para a coleção, mas nem todas são necessárias. Nossa ideia é criar um plano de "deaccessioning" [a venda de peças que não se adequam mais ao museu].

Como é o Masp que você quer?
Um Masp mais presente, mais próximo da sociedade e com uma programação mais robusta. Todo mundo que vê o museu sabe que ele pode entregar muito mais.


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