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Crítica - Poesia

Pequeno livro enorme, estreia do poeta em 1930 captou do jocoso ao sublime

FELIPE FORTUNA ESPECIAL PARA A FOLHA

Com "Poemas" (1930), Murilo Mendes estreia em cheio na modernidade. Numa carta do mesmo ano para Mário Andrade, ele reconhece a "elasticidade do meu temperamento", que, de fato, sabe captar do jocoso ao sublime, sabe tratar da matéria e do espírito.

O poeta tem consciência dessa trajetória de amplo espectro e das vantagens que lhe dão os principais recursos da modernidade que alcançou: "Estou alarmado com as reclamações contra os poemas-piada, gosto de fazê-los porque me dão agilidade de espírito. Mas não fico neles".

Impressiona, em "Poemas", a diversidade das seis seções do livro, que partem da paródia em tom humorístico de um poema canônico, "A Canção do Exílio" ("a gente não pode dormir / com os oradores e os pernilongos") e chegam a "Tentações Paralelas": "O Espírito me transporta a um lugar muito alto, / me mostra teu corpo decotado."

Nem mesmo "Alguma Poesia", de Carlos Drummond de Andrade, e "Libertinagem", de Manuel Bandeira --outros estupendos livros de 1930-- apresentam tamanha largueza de tons e de motivos.

Um poema como "Prelúdio" parece apresentar, com enganosa simplicidade, o projeto de um poeta que em tudo descobre novidade e, por estar também sendo projetado, aponta o futuro.

Numa carta de 1931 --publicada nesta edição de "Poemas" pela primeira vez--, Murilo Mendes escreve a Mário de Andrade que "nem você nem o Bandeira quiseram se referir aos meus entrelaçamentos com o Ismael [Nery]".

De fato, "Poemas sem Tempo", a seção final do livro, é dedicada ao amigo pintor e intelectual católico. Os poemas ali são caracterizados por uma estranha metamorfose das proporções, de natureza física e, sobretudo, espiritual.

Felizmente, a falta de referência segura sobre a influência de Ismael Nery sobre a poesia de Murilo Mendes foi soberbamente corrigida por um posfácio de Silviano Santiago a esta nova edição.

"Poemas" é um pequeno livro enorme.


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