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Rei dos vinis abocanha coleção de seu vice
Zero Freitas adquire 700 mil LPs de Manezinho da Implosão, empresário que colocou o Carandiru abaixo em 2002
Após desafio lançado por Ruy Castro na Folha, próximo projeto é completar a discografia brasileira
O campeão dos vinis no Brasil --e no mundo, até onde se sabe-- abocanhou a coleção de seu vice declarado.
Na semana passada, José Roberto Alves Freitas, o Zero Freitas, 60, empresário do ramo dos transportes que calcula ter mais de 5 milhões de vinis, fechou negócio com o Manoel Jorge Dias, o Manezinho da Implosão.
Zero comprou cerca de 700 mil discos de Manezinho por "R$ 1 ou menos" por disco, segundo diz. "Foi um valor bem abaixo do mercado", afirma o vendedor.
O "vice", como diz seu apelido, é um engenheiro de implosões, conhecido por demolir os pavilhões do Carandiru e vários edifícios de São Paulo. Ele se dizia o dono do maior acervo ("mais de 1 milhão") da América Latina --até surgir Zero, descoberto pelo jornal "The New York Times" em agosto. "Não fiquei triste. Pensei: Conheci alguém tão xarope como eu'", brinca Manezinho.
Parte de sua coleção não foi vendida a Zero Freitas. Está no "Casarão do Vinil", r. dos Trilhos, 1.212, Mooca, tel. (11) 2737-0155, aberto neste mês para a venda das bolachas. "Os 700 mil mais o que tem no Casarão com certeza dá mais de 1 milhão", diz.
SEM CRITÉRIO
Como Zero, Manezinho não se diz um colecionador. "Eu me considerava o maior acumulador de vinis", afirma. O termo é refutado por Zero, que diz ser um "juntador".
Durante o épico encontro entre acumulador e juntador, um almoço na semana retrasada, os empresários descobriram ter mais em comum. "Os pais dele são de um vilarejo que fica a 30 km do vilarejo dos meus pais em Portugal", conta Zero, empolgado.
Nenhum deles tem muitos critérios na hora de comprar uma coleção. Zero nem sequer procurou saber sobre o conteúdo do acervo de Manezinho. "Isso é no escuro", diz. O demolidor tampouco sabe defini-lo: "Fui comprando vinis sem fazer distinção de modalidade ou gênero. Há todos os tipos de música".
Para concluir o negócio, Zero vai mandar buscar, em caminhões, os 700 mil vinis distribuídos em três depósitos na Mooca. Essa é só mais uma das compras feitas após a publicação de várias reportagens sobre sua coleção.
RUY CASTRO
Desde que apareceu no "New York Times", Zero tem recebido ofertas, como a da Biblioteca Nacional da França, que quer doar 5.000 discos. Ele também comprou 300 mil vinis na Califórnia.
Com essas últimas aquisições, ele passaria a ter cerca de 6 milhões de discos em sua coleção. Mas o que Zero ambiciona mesmo é o registro de todos os discos já editados no Brasil. É um desafio, conta, feito por Ruy Castro em uma de suas colunas da Folha.
No texto "Pretos e Redondos" (publicado em 23/8), o colunista "aplaude" a compulsão de Zero. Mas escreve: "Só lamento a ainda baixa incidência de discos de música brasileira em seu acervo --250 mil, segundo ele. É pouco em cinco milhões".
"Aceito o desafio", diz Zero, que convidou Castro para conhecer sua coleção em São Paulo. "Vamos fazer a discografia brasileira."