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Livros mudam o mundo pela conscientização, diz autora

Finlandesa premiada defende tese de literatura como instrumento político

Sofi Oksanen, 37, situa suas obras em períodos históricos dramáticos, como nas ocupações alemã e russa na Estônia

ROBERTA CAMPASSI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE FRANKFURT

Os óculos de lentes redondas, o rosto branco maquiado e os cabelos negros enfeitados por dreadlocks multicoloridos tornam o visual de Sofi Oksanen inconfundível.

Mas não foi apenas por seu visual que a escritora se tornou o rosto mais conhecido da literatura finlandesa contemporânea.

Aos 37 anos, filha de pai finlandês e mãe estoniana, Oksanen é uma das autoras mais bem sucedidas e politicamente combativas da Finlândia.

Seus principais livros narram a vida dos personagens em momentos históricos e políticos dramáticos. Concentram-se, sobretudo, nos períodos em que a Estônia esteve sob domínio soviético.

"When the Doves Disappeared", romance de 2012 que será lançado no Brasil em 2015 pela Record, acompanha a vida de três personagens e relata suas ações de resistência ou de colaboração no intervalo que vai da ocupação alemã da Estônia, em plena Segunda Guerra, às décadas seguintes de dominação soviética.

Seu primeiro livro publicado, "As vacas de Stalin", também tem como pano de fundo as agruras do regime soviético, e "Expurgo", que lhe rendeu vários prêmios, explora o tema do tráfico sexual no conturbado período pós-independência estoniana, em 1992.

Apesar dos temas densos, as obras são um sucesso de vendas. Só na Finlândia, "When the Doves Disappeared" saiu com primeira tiragem de cem mil cópias e "Expurgo" vendeu mais de 260 mil exemplares, com tradução para mais de 40 países.

ARTE E POLÍTICA

Em entrevista à Folha, Oksanen falou sobre o papel político da literatura. A escritora é uma das estrelas na Feira do Livro de Frankfurt, que homenageia a Finlândia, --ela fez o discurso de abertura.

"A literatura pode mudar o mundo, porque torna as pessoas mais conscientes", diz. "Quando um leitor vê o mundo pelos olhos do protagonista de um livro, ele realmente entende que mundo é esse onde o personagem vive."

Ela argumenta que sabe-se muito sobre o Holocausto porque inúmeras obras o retrataram, mas já sobre a vida no regime soviético não há tanta ficção sendo produzida.

"A pesquisa histórica é fundamental, mas não envolve emocionalmente", continua. "Não são muitas as pessoas que querem ler não ficção antes de dormir, mas todo mundo quer ler um livro ou ver um filme com uma boa história."

Rapidamente o tema da conversa se volta à Ucrânia. Desde a anexação da Crimeia pela Rússia, Oksanen elevou o tom das críticas ao governo de Vladimir Putin, que classifica como "imperialista" e "antidemocrático".

Muitas traduções de "When the Doves Disappeared" saíram após a eclosão da crise na Ucrânia e as pessoas têm lido o livro à luz do conflito.

Em seu discurso, Oksanen relembrou a história da literatura finlandesa e o papel das escritoras do país e discorreu sobre a opressão da Rússia contra as línguas e culturas do Báltico e dos Urais.

"Fredrika Runeberg [escritora finlandesa], assim como John Stuart Mill [filósofo inglês], acreditava que as mulheres e os escravos só descobrem quem são quando obtêm sua liberdade. Isto também é verdade para as línguas. Só uma língua livre pode voar."


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