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8º Festival de Cinema Italiano - Crítica Drama

Em 'Eu e Você', Bertolucci calca narrativa quase só na imagem

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Logo de cara, "Eu e Você" enuncia um tema caro a Bernardo Bertolucci: o incesto.

No filme, que o 8º Festival de Cinema Italiano apresenta hoje, o jovem Lorenzo aborda a possibilidade de viverem intransitivamente, ele e a mãe, essa relação a dois.

Ela, no entanto, rejeita a aproximação. Quer que o garoto cresça como os amigos, participando de grupos, indo à excursão que a escola prepara nos próximos dias - normal. Parece não notar o quê insano no olhar de Lorenzo (Jacopo Olmi Antinori) -que lembra o Malcolm MacDowell de "Laranja Mecânica".

O essencial, porém, não é essa evocação eventual. Percebemos desde o início o quanto Bertolucci dá atenção a coisas como a força de um olhar. É um cineasta da imagem, o que fica claro a seguir.

No que diz respeito ao roteiro, é dito e feito: Lorenzo finge que vai à viagem com o colégio para melhor se refugiar no porão do pavilhão em que habita com a mãe. É um paraíso bem bertolucciano, o refúgio fechado ao mundo: com mantimentos e livros Lorenzo prepara-se para passar uns dias a salvo do mundo.

O mundo sempre parece agressivo aos heróis de Bertolucci. Pode ser a mãe, um cinema, um porão: o importante é estar a salvo, pois da vida só esperam o pior.

Mal sabe Lorenzo que o pior mesmo está para acontecer. Ou o melhor? É o que veremos quando Olivia (Tea Falco) irrompe no refúgio, carregando um celular e seus problemas, que começam no fato de ser uma drogada.

Olivia é dor de cabeça. A seu lado, Lorenzo terá de reorganizar esse espaço. Embora juntos, não se falarão tanto, o que nos dá a medida de como Bertolucci constrói a narrativa com base, essencialmente, na imagem.

Eles se falam pouco, mas os transtornos que Olivia introduz na vida do rapaz levam a pequenas transformações nas relações entre eles.

Como Lorenzo, podemos sonhar em abstrair o mundo, em nos ocultar dos problemas que propõe. Mas será, na prática, possível? Ou ainda: será o mais interessante? A vida com a bela e conturbada Olivia pode ser uma resposta. Talvez já esteja em outros filmes do autor. Nem por isso é menos encantadora.


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