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Análise

Memória afetiva, e não originalidade, norteou votos

Clipes vencedores são inspirados em inovações estrangeiras no formato

ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA

Na eleição dos melhores videoclipes brasileiros, os votantes parecem ter usado mais o coração que a razão. A memória afetiva e o gosto pessoal superaram fatores como importância histórica e ineditismo criativo.

Só isso pode explicar o fato de os sete primeiros colocados terem sido produzidos na mesma época -de 1996 a 1999- e não trazerem grandes inovações estéticas.

O vencedor, "Ela Disse Adeus", dos Paralamas do Sucesso, é bem feito e divertido, mas seu pastiche de filmes mudos não era nenhuma novidade: em 1981, a J. Geils Band já usara cenas de filmes mudos no clipe de "Freeze Frame".

E, em 1996, o Smashing Pumpkins havia surpreendido com uma linda homenagem ao pioneiro do cinema Georges Méliès, em "Tonight, Tonight".

E os Racionais filmando "Diário de um Detento" no Carandiru? Quase 30 anos antes, quando fez shows nas prisões de Folsom e San Quentin, o cantor "country" Johnny Cash (1932-2003) já havia sacado que filmar atrás das grades oferecia um automático selo de "autenticidade". Idem para O Rappa e sua visão neorrealista das favelas cariocas em "Minha Alma".

Já o clipe de "Maracatu Atômico", da Nação Zumbi, oferece imagens fortes e coloridas do maracatu, mas é impossível não ficar incomodado com a semelhança com o clipe de "Give It Away", feito em 1991 pelo Red Hot Chili Peppers. Há uma imagem da Nação, com a banda coberta de lama e filmada de baixo para cima, que é uma réplica de uma imagem do clipe do Chili Peppers.

Já "Ratamahatta", do Sepultura, agradou com sua animação de massinha, mas, convenhamos, não quebrou grandes barreiras. E o sertão estilizado de Marisa Monte em "Segue o Seco" envelheceu mal demais. Parece o Cirque du Soleil encenando "Morte e Vida Severina".

SUCESSOS

Analisando a votação, parece que nenhum clipe foi produzido no país antes da chegada da MTV ao Brasil, em 1990. Mas não dá para falar da trajetória do clipe no país sem citar sucessos como "Louras Geladas" (1985), do RPM, "Será" (1985), da Legião Urbana, e "Menina Veneno" (1983), de Ritchie, clipes que hoje parecem toscos, mas que fizeram grande sucesso.

E, se é para voltar no tempo, será que ninguém citou "Gita" (1974), de Raul Seixas, que Cyro Del Nero dirigiu no "Fantástico"?

O clipe marcou época, com Raul dublando a música diante de pinturas clássicas de "malditos" como Hieronymus Bosch, Salvador Dalí, René Magritte, Pieter Bruegel e Max Ernst. Um delírio profano e surrealista em pleno horário nobre da TV.


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