Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Teatro

Obra revê história da arte cênica no país

Em dois volumes, estudo organizado por João Roberto Faria supre ausência de pesquisas sobre encenações

Primeiro livro abarca José de Anchieta e o teatro romântico; o segundo, chega às companhias do séc. 21

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

O crítico Sábato Magaldi disse em seu "Panorama do Teatro Brasileiro" que ainda estava para ser escrito no Brasil um livro que contasse a história do teatro brasileiro a partir de encenações, e não apenas da dramaturgia.

Só agora essa ausência foi suprida, por meio do lançamento dos dois volumes que compõem "História do Teatro Brasileiro" (editora Perspectiva), organizada pelo crítico e historiador João Roberto Faria. O segundo livro sai em janeiro, seis meses após o lançamento do primeiro volume (R$ 95, 500 págs.).

Leia a seguir trechos da entrevista com o organizador.

-

Folha - O que levou a história do teatro a ser escrita a partir da dramaturgia e não da cena?
João Roberto Faria - É mais fácil escrever a história da dramaturgia porque os textos foram publicados.

E como pesquisar sobre uma arte efêmera por natureza?
Quando nos debruçamos sobre o século 19, é indispensável ir a jornais, a revistas, a críticas. Claro que não é completo, mas por meio da documentação você consegue perceber como era a interpretação de um ator romântico como o João Caetano [1808-1833], e como era a de um ator realista como Furtado Coelho [1831-1900].

Se o teatro foi uma ferramenta de catequização no Brasil Colônia, o padre José de Anchieta [1534-1597] foi exceção?
O que Anchieta fez foi de fato um teatro empenhado em catequizar índios. Discutir se essa forma teatral do Anchieta tem expressão artística ou não é interessante porque, na verdade, sim, tem expressão artística: ele escreve em versos. Infelizmente não podemos dizer se esses textos foram ditos como foram escritos. Mas Anchieta foi um caso excepcional, porque depois dele ficamos por muito tempo sem uma vida teatral digna de registro.

Quando o teatro começa a ser digno de registro no Brasil?
O teatro vai se expandir depois da vinda do D. João 6º. Com ele, chegam milhares de portugueses, e uma vida teatral mais intensa começa. Nos anos 1850, no Rio, os jornais já mostram anúncios de espetáculos todas as noites.

Os críticos alguma vez subestimaram um artista?
Embora Martins Pena [1815-1848] tenha feito sucesso de público, não foi considerado um autor importante, nem por José de Alencar e nem por Machado de Assis. Havia preconceito com uma forma teatral popular. Todo mundo achava no século 19 que a pessoa mais importante do teatro brasileiro era Gonçalves de Magalhães [1811-1882]. Hoje não temos dúvida de que Pena foi o grande autor brasileiro daquela época.

Oswald de Andrade [1890-1954] escreveu a primeira peça moderna. Por que Nelson Rodrigues [1912-1980] marca o início do teatro moderno?
Oswald não viu nenhuma de suas peças ser encenada. Morreu sem saber que "O Rei da Vela" tinha uma visão de Brasil incrível, um texto que [em 1967] pôde mostrar toda a sua força na encenação de Zé Celso. Nelson teve reconhecimento em vida, e "Vestido de Noiva" o consagra como fundador do teatro moderno brasileiro.

Oswald então foi prejudicado pela ausência de diretores?
Claro. Quando ele escreve suas peças no início dos anos 1930, não havia o diretor teatral no Brasil, nós conhecíamos apenas o ensaiador, uma profissão técnica. Oswald foi prejudicado por isso. Seus textos eram revolucionários mais na forma do que no conteúdo e, para a época, eram muito estranhos. Ninguém conhecia o distanciamento brechtiano, e Oswald era um homem ligado à vanguarda, estava adiante de seu tempo, e suas peças só puderam ser compreendidas depois.

Os modernistas deixaram o teatro de lado?
De todas as artes, o teatro foi o que menos mereceu a atenção dos modernistas, embora tenha merecido alguma. Uma mudança no teatro exige grupos de atores, diretores. É muito mais difícil propor uma renovação teatral do que propor a renovação de uma arte que você faz sozinho em casa. Os modernistas não estavam desatentos ao teatro, mas a modernização do teatro estava além das forças que tinham como artistas.

O surgimento da performance nos anos 1960 transforma o fazer teatral?
Quando a figura do diretor surgiu, o centro do fazer teatral estava nele. Alguns foram acusados de ditadores, porque impunham sua visão, não davam liberdade para o ator. O que foi acontecendo a partir dos anos 1960? A responsabilidade do espetáculo, ou sua força maior, foi posta nas costas do ator, que se viu com mais responsabilidade e mais liberdade. Hoje, nos processos criativos, o ator dialoga com o diretor.

Por que a entrada para a contemporaneidade é com "Macunaíma" (1978), de Antunes Filho, e não com "O Rei da Vela" (1967), de Zé Celso?
Quando Zé Celso encena "O Rei da Vela", ainda trabalha com uma ideia do teatro apoiado na dramaturgia, no texto, que existe previamente. Em "Macunaíma" não havia texto pronto, a dramaturgia surgiu dos ensaios.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página