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Crítica

"Terra de Santo" alcança momentos sublimes apesar de redundâncias

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Teatro dos mortos. "Terra de Santo", espetáculo da Cia. Os Fofos Encenam, repassa cinco séculos de cana de açúcar no Brasil para evocar a dimensão do sagrado de diversas perspectivas e dialogar com os antepassados.

A encenação emerge de uma longa pesquisa sobre engenhos de açúcar, cortadores de cana e sua religiosidade. Talvez por esse acúmulo de informações e referências, a resultante cênica, ainda que bela e radical, padeça de uma densidade excessiva.

A dramaturgia de Newton Moreno serviu-se do Pentateuco -os cinco livros dos Antigo Testamento- para estruturar uma narrativa aberta, que se inicia e termina com uma situação atual, mas invoca arquétipos de diversas crenças projetados em distintos períodos da história do Brasil.

Depois de um prólogo naturalista, em que o público experimenta o amanhecer de um alojamento de cortadores de cana, saboreando inclusive uma boia fria, delineia-se o conflito principal: os donos do engenho pretendem ocupar com o plantio de cana uma área que desde sempre foi usada para cultos e acolhimento de cadáveres.

A tensão criada nesse primeiro momento é sustentada durante a longa sequência de parábolas que se seguem, correspondendo cada uma a uma etnia e raiz religiosa em particular. Ritos indígenas são sucedidos por cantos e lendas das tradições judaica, cristã e africana, tendo em comum a experiência da morte.

O foco no peso e no valor de uma terra habitada pelos mortos é o aspecto mais interessante da montagem, pois sintoniza os artistas do teatro contemporâneo que percebem no corpo morto a única vitalidade possível. Nesse paradoxo "Terra de Santo" também se aplica, alcançando momentos sublimes, ao lado de alguma redundância.

O extenso processo criativo garantiu um padrão de excelência e homogeneidade no desempenho dos atuantes e configurou uma cenografia e figurinos plenos de eficácia e requinte.

Os Fofos acrescem mais uma obra relevante no conjunto de ótimos trabalhos que vem realizando. No entanto, uma síntese mais enxuta talvez potencializasse o impacto dessas vozes enterradas sobre os vivos que as recebem.


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