Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Autor narra acidente que matou sua mulher

Em "Say Her Name", Francisco Goldman relembra mergulho fatal numa praia do México

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

A mexicana Aura Estrada tinha 25 anos e já era uma promissora escritora iniciante, que começava uma carreira universitária nos EUA. Em Nova York, conheceu o americano-guatemalteco Francisco Goldman, então com 47 anos, professor de literatura e colaborador da "New Yorker" e do "New York Times".

Casaram-se e foram viver na casa dele, no Brooklyn, até que a tragédia bateu à porta do apaixonado casal.

De férias em uma praia perto da cidade mexicana de Oaxaca, Aura e o marido brincavam de pegar onda no mar. Uma delas, porém, engolfou a moça, fazendo com que quebrasse a espinha e perdesse os movimentos.

Abruptamente arrastada para a areia, Aura foi socorrida por Francisco e por alguns banhistas, colocada numa prancha de surfe e levada primeiro a um pequeno hospital e depois, de avião, até a Cidade do México.

Apesar dos cuidados, Aura não resistiu ao acidente e, às vésperas de completar 30 anos, morreu diante de um marido estupefato.

"Passei seis meses bêbado, sofri um acidente de carro, até que decidi escrever o livro, para que o choque se transformasse num retrato dela", diz Goldman, em entrevista à Folha.

"Say Her Name" (diga o nome dela) é o resultado de um ano de trabalho vertiginoso, em que Goldman disse ter escrito "sob a influência de um luto alucinógeno e obsessivo". "Queria lembrar cada detalhe dela e do acidente."

Com resenhas elogiosas no "New York Times", no "Guardian" e capítulos sendo reproduzidos em distintas revistas literárias, o livro alçou Goldman, um ex-correspondente de guerras na América Central, ao estrelato literário.

Na última Feira do Livro de Guadalajara, foi um dos destaques da programação.

SEM COMPAIXÃO

"Não escrevi para gerar compaixão, a tentativa foi dar forma literária ao meu sofrimento. Como se eu pudesse, ao alcançar a palavra perfeita para descrever o que eu sentia, aliviar minha dor."

O livro descreve o romance entre os dois e a dor da perda do autor. A narrativa é uma mescla entre a novela e o jornalismo.

Goldman entrevistou exaustivamente cientistas, especialistas em ondas do mar, além de pesquisar a fundo a própria mulher, juntar seus escritos, fuçar seu computador, investigar sua relação com a mãe e os amigos.

"O choque abriu uma ferida em mim e uma espécie de buraco em minha cabeça, as memórias começaram a jorrar como se fossem sangue. Ao mesmo tempo, sentia a necessidade de investigar tudo o que havia ao redor dela, para capturá-la e, ao mesmo tempo, deixá-la partir."

Além do livro, Goldman criou um prêmio literário em homenagem à mulher e lançou uma coletânea de contos seus traduzidos ao inglês.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página