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Crítica / Teatro

"Átridas" atualiza a noção de tragédia com inventividade

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Tragédia contemporânea? Foi para responder se ainda seria possível, hoje, atingir-se a dimensão trágica que o grupo PH2 - Estado de Teatro iniciou a pesquisa geradora do surpreendente espetáculo "Átridas".

Depois de tratar a questão em duas montagens, com suas próprias referências, os jovens artistas do PH2 enfrentaram o desafio de examiná-la a partir da única trilogia de Ésquilo (525 a.C-455 a.C) que nos chegou, a "Orestéia", assim chamada por conta de seu herói, Orestes.

Formada por "Agamenon", "Coéforas" e "Eumênides", a trinca de tragédias mais antiga do teatro grego conta a maldição dos descendentes de Atreu, que começa antes dos episódios ali descritos.

MORTE EM FAMÍLIA

Agamenon, filho de Atreu, comandou os gregos na vitória sobre Tróia, mas, para obter dos deuses ventos favoráveis, sacrificou a própria filha, Ifigênia.

Quando retornou da guerra foi morto por Clitemnestra, sua mulher, que por sua vez é morta pelo filho Orestes, vingador do pai e agora perseguido pelas fúrias, entes que cobram crimes consanguíneos.

A opção do PH2 foi evitar narrar linearmente esses fatos. Empilha-os todos num mesmo plano, uma festa de família, e desenha uma elipse cumulativa de situações dramáticas, que sobrepõem camadas de diversos tempos e espaços e embaralha os episódios das três tragédias aos eventos que os antecedem.

A alternativa é bem sucedida pois aproxima aqueles heróis míticos, evocados por Ésquilo no início do século 5 a.C., a situações de derrocada familiar que não são estranhas ao nosso tempo.

ESTACIONAMENTO

A encenação desenhada em um estacionamento subterrâneo, permite combinar uma ocupação alargada do espaço à concentração em uma arena, onde ocorrem a maior parte das cenas.

Comprimidas as ações em um arco que acolhe simultaneamente distintas referências, a narrativa fica a cargo principalmente dos personagens configurados.

Mesmo sendo uma criação coletiva, repleta de colaborações preciosas, impossível não destacar alguns desempenhos. A Ifigênia de Júlia Moretti, a Clitemnestra de Paola Lopes e o Egisto de Bruno Caetano sobressaem.

Destaque também para a dramaturgia de Luiz Paulo Pimentel e Catarina São Martinho, os vídeos de Eduardo Azevedo e a direção segura de Maria Emília Faganello.

O grupo PH2 - Estado de Teatro realiza seu projeto de atualizar a noção de tragédia. Projeta com inventividade as tramas de Ésquilo sobre a face multifacetada do homem contemporâneo.


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