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'Comédia é tragédia interrompida e vice-versa', diz Ayckbourn

Dramaturgo britânico de 73 anos conta que ri muito enquanto cria suas histórias e que não escreve pensando em agradar

Autor, que une drama e humor em tramas sobre fragilidade do homem, revela que leva a sério o trabalho, não a si mesmo

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alan Ayckbourn não é afeito a refeições. Elas diminuem o prazer diário desse autor e diretor britânico que é considerado um dos dramaturgos mais encenados e produtivos do mundo. As refeições o impedem de se dedicar o dia todo ao trabalho.

Em 53 anos de carreira, Ayckbourn, 73, escreveu cerca de 80 peças, montadas em 35 países.

Ao expor fragilidades do homem de seu tempo com leveza, misturando farsa com drama em suas peças, alcançou mais visibilidade do que outros autores britânicos contemporâneos cultuados, como Tom Stoppard. Em popularidade, parece perder apenas para William Shakespeare (1564-1616).

Quando começou seu ofício, escrevia para pagar as contas. Hoje exerce a atividade por puro deleite. Na realidade, nem considera sua atividade um trabalho.

"Eu diria que escrever é mais prazeroso do que ter que trabalhar para viver!", diz.

Ao conversar com a Folha sobre "Afogando em Terra Firme", peça que estreia em São Paulo em janeiro e sua paixão pelo teatro, Ayckbourn mostrou ser tão bem-humorado e inteligente quanto sua coleção de textos para o teatro.

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Folha - O senhor é um dos autores mais encenados e profícuos do mundo. Como mantém o interesse do público?
Alan Ayckbourn - Tive acesso a todo conhecimento que precisava no teatro que toquei por 40 anos. Além disso, tive a chance de ter todas as minhas peças aprovadas pelo diretor artístico desse espaço, eu! Ter boas ideias ajudou também.

Como explica seu sucesso em tantos países? Deve-se ao fato de o senhor misturar comédia e drama, produzindo peças ao mesmo tempo reflexivas e de entretenimento?
As pessoas parecem compartilhar as minhas visões de mundo. Acredito que qualquer drama deve provocar sorrisos na plateia e toda comédia precisa ter seriedade no coração. Não pode haver luz sem sombra.

O senhor conseguiu popularidade e boas críticas. É um feito raro.
Não escrevo pensando em agradar à plateia ou aos críticos. Sempre escrevi aquilo que desejava compartilhar com os meus atores. Nós nos divertimos criando e buscamos reproduzir essa sensação em cena.

O senhor já escreveu uma peça em três dias e considera as refeições tediosas, já que elas o afastam do trabalho. Escrever é tão natural e divertido assim?
Amor e diversão estão intimamente ligados. Amo o que faço. Quando crio, costumo rir bastante -o que não significa que não levo o trabalho a sério. Como é o ditado? Leve a sério o trabalho, nunca você mesmo.

É verdade que, enquanto cria, seus personagens ganham algum tipo de autonomia?
Os personagens, de fato, às vezes me surpreendem ao mostrarem características que eu nunca suspeitei que tivessem.
Mas não começo uma peça até ter uma boa ideia do modo com que ela vai terminar. A grande questão é quando parar. Comédia é tragédia interrompida. E vice-versa.

Em "Afogando em Terra Firme", sua intenção era criticar o culto à celebridade do mundo atual?
A previsão de Andy Warhol (1928-1987) de que todos, mesmo sem possuir qualquer tipo de talento especial, terão 15 minutos de notoriedade está se tornando verdade.
As pessoas costumavam crescer desejando realizar coisas importantes. Hoje em dia, muitos querem apenas se tornar famosos.

Charlie, o protagonista da peça, se torna celebridade sem ter realizado coisa alguma?
Meu herói nunca realizou nada. Já nasceu um perdedor. Como um dos personagens diz na peça, se ele pode conseguir fama e fortuna, há esperança para todos!

Como continuar inspirado depois de 53 anos de trabalho?
Criar é quase um reflexo para mim. Enquanto as pessoas quiserem, vou tentar responder à altura. Afinal, eu diria que escrever é mais prazeroso do que ter que trabalhar para viver!


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