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Crítica / Drama

Companhia encena clichês do teatro político

Terceira parte de trilogia da Antropofágica tem grupo de atores aguerrido mas fraco, em que talentos não sobressaem

Lenise Pinheiro/Folhapress
Atores da Cia. Antropofágica em cena da peça "Terror e Miséria do Novo Mundo Parte 3", trilogia iniciada em 2009
Atores da Cia. Antropofágica em cena da peça "Terror e Miséria do Novo Mundo Parte 3", trilogia iniciada em 2009
LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Revista vermelha ou geleia geral? O espetáculo "Terror e Miséria do Novo Mundo Parte 3" é um convite à confusão. Misturando teatros antagônicos e com críticas sarcásticas à esquerda e à direita, o novo trabalho da Cia. Antropofágica incita à revolução.

Esta terceira parte de uma trilogia iniciada em 2009 para resgatar a história brasileira à base do deboche contempla o período da República.

A disposição e a garra de realizar tudo com poucos recursos, materiais e artísticos, não são suficientes para salvar o projeto. O voluntarismo, na política e na arte, é desencaminhador.

O líder do grupo, o jovem encenador Thiago Vasconcelos, é uma das vozes mais instigantes entre as ativas nos grupos paulistanos que militam na esquerda e que têm no teatro político de Bertolt Brecht (1898-1956) um modelo.

Ao mesmo tempo, claramente emula-se a figura e o teatro do artista polonês Tadeusz Kantor (1915-1990), cuja obra remete às suas próprias memórias e à história da Polônia, resistindo às imitações e não sendo encenável depois de sua morte.

A encenação de Vasconcelos inspira-se no texto de Brecht "Terror e Miséria do Terceiro Reich". Fragmentada, como uma revista musical, reúne cenas díspares e funde clichês do teatro político a delírios poéticos e a Kantor. Essa tensão entre Brecht e Kantor é a mais explícita de outras que transparecem no longo e prolixo roteiro.

Já na cena de abertura, em que o encenador realiza com o público a situação de uma lição de anatomia, a inspiração soçobra no texto rasteiro sobre o que ali está a ser dissecado, o corpo da República do Brasil.

Essa alegoria é a primeira de várias outras, todas marcadas pela ambiguidade. O alegórico na Antropofágica fica sempre indefinido entre a ironia e a crença arrebatada. Hesita-se entre crer nele ou rir com ele.

Verdade que uma ótima banda, regida por Lucas Vasconcelos, segura o fundo musical com profissionalismo. Mas o conjunto de atuantes é fraco, ainda que aguerrido, e os talentos maiores não se destacam com nitidez. Mesmo os desempenhos são ambíguos.

Em 1924, na Alemanha, Erwin Piscator (1893-1966), encenou a "Revista Vermelha" clamando pela revolução. Nos anos 1960, no Brasil, "geleia geral" foi a hilária metáfora do tropicalismo para a nossa bagunça. Na cena da Antropofágica pulsam essas duas vontades, mas tão confundidas que não se vislumbra nem uma coisa nem outra.


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