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Masp exibe trabalhos de Anna Maria Maiolino e Paulo Nazareth

Artistas venceram em maio primeira edição de prêmio do museu

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

De dentro de um calabouço, uma voz repete palavras em agonia. Sussurra "botas" e "fuzis" em transe, como uma oração aterrorizada.

Anna Maria Maiolino, 70, encerra nessa caixa, espécie de confessionário cego, sua reflexão sobre a ditadura ao mesmo tempo em que vê ecos do horror de então na onda de violência dos dias atuais.

"Esse trabalho era uma resistência à ditadura, uma questão de consciência ética sobre o entorno", diz a artista. "Mas se antes havia a violência do regime militar, hoje há a violência de seres humanos contra outros seres humanos, o que acontece em São Paulo. Eu me senti levada a montar essa exposição mais escura, dramática."

Maiolino expõe agora no Masp um recorte de sua produção da década de 1970 até hoje, entre filmes em super-8, obras sonoras, vídeos e fotografias. A mostra é consequência do prêmio Masp/Mercedes Benz de Artes Visuais, que ela venceu em maio.

Italiana radicada em São Paulo desde os anos 1960, Maiolino participou neste ano da Documenta, em Kassel, na Alemanha, e se firmou no circuito global com uma obra que reflete sobre abusos políticos sempre a partir da ótica da mulher e muitas vezes de uma escala doméstica.

Nas fotografias agora no Masp, a artista é retratada de perto, as mãos sempre à mostra. É o registro metonímico de um universo de trabalhos manuais, ou mesmo das mãos prontas para pegar em armas ou fazer comida.

Um saco de arroz amarrado a outro de feijão com um laçarote de seda reveste de luxo a sensação de fome. Noutro vídeo, Maiolino aparece com um ovo na boca, símbolo frágil e sintético da gênese, que esgarça os lábios.

JORNADA SUJA

Também no museu, Paulo Nazareth, artista que venceu o prêmio de talento emergente ao lado de Maiolino, expõe fotografias da performance em que caminhou de Minas Gerais até os Estados Unidos só com um saco de estopa e uma muda de roupas.

Sua ideia era acumular nos pés a poeira da América Latina antes de entrar nos EUA. Em Miami, ele exibiu seus pés esfolados ao lado de uma Kombi cheia de bananas.


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