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Turismo de perigo é tema de novo livro de mexicano

Em "Arrecife", Juan Villoro narra viagens a locais conflagrados por tráfico

"No Brasil, o link é com os turistas que sobem as favelas", conta o autor durante a Feira do Livro de Guadalajara

SYLVIA COLOMBO ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA

O México é o país do Sol e das pirâmides, pelo menos na imagem que fazem dele os turistas internacionais. Nos últimos tempos, porém, essa fórmula não tem bastado, e começam a surgir variações mais apelativas.

Empresas especializadas que levam os turistas a atravessarem a fronteira como se fossem imigrantes ilegais ou a visitarem locais conflagrados pelo narcotráfico.

"Cada vez mais os turistas querem férias que se enquadrem na estrutura de um conto de fadas. Enfrentamento com um perigo iminente, um contato com a imortalidade, e depois a salvação", diz Juan Villoro, 56, em entrevista à Folha realizada durante a Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no mês passado.

Em "Arrecife", Villoro expõe o funcionamento de um hotel dedicado a essas experiências extremas. O autor sabe que as variantes locais do que chama de "pós-turismo" vão fazer com que a identificação com o livro seja fácil.

"No Brasil, o link evidente é com os turistas que sobem as favelas e precisam entrar em contato com o mundo do crime, ainda que protegidos."

Villoro é o principal nome das letras mexicanas contemporâneas. Autor de romances, ensaios, crônicas, tem entre suas paixões o futebol, sobre o qual escreve muito.

O autor crê que há uma nova sensibilidade no ar que explica o pós-turismo, criada pela relação com a internet, que gerou essa necessidade de contato mais nervoso e intenso com a realidade.

"A internet gera uma necessidade de urgência, um estado de excitação constante, isso reflete no modo como encaramos nossos prazeres hoje", afirma.

Em um outro livro que lançou na feira, a coletânea de crônicas "Hay Vida en la Tierra", Villoro desenvolve mais esse problema.

"Quando eu era pequeno, nos perguntávamos se havia vida em outros planetas. Agora me pergunto se há vida na Terra", diz. "Estamos tão vinculados aos outros por meio de perfis de internet, avatares, senhas e códigos que fica difícil saber se nossa vida é o que ocorre nas telas ou fora delas", resume.

Os protagonistas de "Arrecife" são veteranos do rock nacional e da contracultura local.

"Eles não se lembram bem das coisas, por causa do abuso das drogas, então têm de conversar entre si, para salvar a memória do que aconteceu com o grupo", conta Villoro. "Me pareceu um excelente exercício literário."

O mexicano resolveu explorar esses personagens porque se relacionam com sua experiência com o México dos anos 1970.

"Tivemos uma contracultura distinta da de outros países, porque em 1968 enfrentamos a repressão de Tlatelolco (massacre de estudantes). Isso fez com que nosso movimento fosse mais tímido. Nos anos 1980, quando efetivamente vingou, o que era contracultura em outros lugares já havia se transformado em indústria cultural."


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