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Crítica / Comédia
'Viúvas' é entretenimento que público vê melhor em novela
DO CRÍTICO DA FOLHAO impulso de considerar Buenos Aires a capital europeia mais próxima e de tratar o cinema argentino como um manancial infinito de filmes sofisticados traz o risco de confundir gato com lebre.'
"Viúvas", por exemplo, teria pouquíssimas chances de ocupar algum espaço se não fosse o sucesso de público conquistado por "Elsa & Fred", filme dirigido em 2005 por Marcos Carnevale, que assina essa comédia de costumes.
Enquanto o olhar simpático e sentimentalista para a velhice ajudava a entender a receptividade obtida por "Elsa & Fred", "Viúvas" não conta com artifícios semelhantes, o que deixa mais evidentes suas fragilidades.
O plural do título refere-se a Elena, cineasta madura cujo marido acaba de morrer, e Adela, a jovem estudante amante dele. A princípio revoltada, a mulher traída supera a aversão pela "outra" e a acolhe com afeto e atenção, num papel materno.
No lugar do ressentimento, Elena se esforça para constituir um vínculo com base numa "identidade feminina", em que ambas refletem o vazio sentido pela mulher que perdeu seu homem.
Como reiteram as personagens do documentário que Elena está realizando, o importante para a "alma feminina" é valorizar toda forma de amor, mesmo quando isso implique sacrifícios.
Apesar da presença de um personagem transexual, estamos longe do registro de um Almodóvar, por exemplo, que vira ao avesso os estereótipos associados ao universo feminino para exibir, ali resguardadas, múltiplas formas de conformismo e submissão.
Em vez de compartilhar a perspectiva insubordinada dos melhores nomes do cinema argentino, Carnevale só tem a oferecer um tipo de entretenimento que o público brasileiro já tem mais e melhor nas novelas de Manoel Carlos.
