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Crítica / Comédia

Nova 'globochanchada' subverte lógica brasileira da malandragem

Daniel Chiacos/Divulgação
Ingrid Guimarães em cena do filme "De Pernas pro Ar 2"
Ingrid Guimarães em cena do filme "De Pernas pro Ar 2"
RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA

Em suas fases áureas, chanchadas e pornochanchadas eram, com frequência, sucesso de público e fracasso de crítica. O mesmo se repete agora com as "globochanchadas" (termo do cineasta Guilherme de Almeida Prado).

Com o tempo, as chanchadas foram alvo de uma revisão crítica que buscou identificar suas características e valorizar suas virtudes -algo que começa a ocorrer também com as pornochanchadas.

Será que o mesmo processo se dará, dentro de alguns anos, com as comédias de costumes produzidas e/ou lançadas pela Globo Filmes?

Em vez de tentar prever o futuro, talvez seja melhor encarar o fenômeno no presente, criticamente e sem preconceito, e tentar entender o que sua hegemonia nos diz sobre o momento do cinema brasileiro e do próprio país.

Nesse sentido, 2012 pode ter sido bastante didático. O maior sucesso brasileiro do ano foi "Até que a Sorte nos Separe", fábula moral sobre o desperdício de dinheiro inspirada em um best-seller de educação financeira.

O ano se encerra com "De Pernas pro Ar 2", continuação da maior bilheteria brasileira de 2011, por sua vez inspirada na história real de uma executiva que abriu uma sex shop para mulheres e virou um "case" de sucesso.

No novo filme, a protagonista Alice (Ingrid Guimarães) sofre uma crise de estafa por excesso de trabalho e é obrigada pelo marido a se internar em uma clínica. Ela decide, então, esconder da família que está abrindo uma filial de sua sex shop em Nova York.

O filme promove, assim, uma inversão da lógica da malandragem brasileira. Se antes malandro era quem driblava o trabalho, agora é aquele que dribla o ócio.

O arco da comédia de costumes é conhecido: introduz-se uma subversão (mulher casada que descobre o vibrador) para depois reforçar a tradição (a importância da manutenção do matrimônio).

A novidade aqui é que a felicidade não vem da família ou do lazer, mas do trabalho. Não mais a moral dos contos de fada, e sim a dos manuais de empreendedorismo.

Não é um acaso que o gozo da protagonista venha de um objeto de consumo nem que a trama se desloque para a meca do capitalismo.

A família de Alice só parece plenamente feliz quando faz compras em lojas famosas.

Se a ideologia do consumo à americana parece ter sido importada de vez pelo cinema comercial brasileiro, a estética de plano/contraplano e o humor de caricatura continuam sendo pautados pela nossa velha e boa televisão.

Mas há inegáveis avanços em roteiro e direção em relação ao primeiro filme, e Ingrid se confirma como um talento cômico -algo que nunca faltou às nossas chanchadas. Não é nada, não é nada, mas é alguma coisa.


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