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Crítica biografia

Ironia dá o tom em memórias de Willie Nelson

Ícone da música country norte-americana apresenta comentários despretensiosos sobre vida, carreira e política

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

Na estante das superdocumentadas e ultradetalhadas biografias de figurões do mundo musical, o livro de memórias de Willie Nelson chega desafinando o coro dos contentes, como dizia o poeta.

Não respeita ordem cronológica nem trata exaustivamente da trajetória do ícone da música country norte-americana. Em lugar disso, traz um punhado de comentários de Nelson, 79, sobre sua arte, seus caminhos, a política e a vida.

De certa forma, é o que promete o título: "Roll Me Up and Smoke Me When I Die: Musings from the Road" (me enrole e me fume quando eu morrer: reflexões da estrada, em tradução livre), lançado recentemente nos EUA.

É uma verdadeira colcha de retalhos, com preciosidades sobre a vida e a carreira de Nelson, que escreve com bom humor. Inclui também textos menores, a maioria de parceiros, colaboradores ou parentes do cantor, que estariam mais apropriadamente colocados em algum caderno de recortes familiar.

Em "Roll Me Up..." há minicapítulos em que parceiros relembram como conheceram o ídolo -em alguns casos, chefe ou patrão-; filhos e netos dão testemunho de como Willie Nelson é legal, bom pai, cidadão da melhor qualidade e assim por diante.

Mesmo nas arengas familiares, há o que se salve. Annie, a quarta e atual mulher do artista, conta como os dois se conheceram -foi no set de filmagens da versão televisiva de "No Tempo das Diligências", o grande faroeste de John Ford- e comenta bastidores de shows e temporadas.

Mas o que alinhava tudo, dando forma e consistência ao volume, são os textos de Willie Nelson, escritos em estilo simples, sem pretensões literárias. Quer apenas compartilhar lembranças, momentos da vida e opiniões -muitas opiniões.

Ele se apresenta como rebelde desde garotinho. "Uma vizinha afirmava que quem consumia álcool ou tabaco ia para o inferno. Como eu fumava e bebia desde os seis anos, posso dizer que a minha rota para o inferno estava traçada desde meus tempos de jardim de infância."

Ao longo da vida, porém, foi abandonando alguns dos vícios. "O cigarro matou meu pai, matou minha mãe, meu padrasto e minha madrasta", diz, ao revelar o que fez quando decidiu parar de fumar.

"Joguei fora todos os cigarros do maço, enrolei 20 baseados e os coloquei no lugar. Ia fumando um por dia..."

COMPOR É UM PARTO

Hoje é um feroz militante antitabagista e, ao mesmo tempo, ativo defensor da liberação da maconha. Em resposta ao grupo conservador Tea Party, lançou o movimento TeaPot (chá de maconha, em tradução livre) depois de uma de suas prisões por posse da chamada erva maldita.

Também fala sobre sua participação em movimentos mais amplos, como o Farm Aid, de apoio a pequenos produtores rurais, e não deixa de dar seus pitacos na vida política -apoia e elogia o presidente Obama.

Conta ainda, sem pena de rir de si mesmo, algumas de suas aventuras empresariais, como uma fracassada criação de porcos que terminou em grande prejuízo.

Pontua o texto com letras de músicas, piadas, pensamentos. Faz confidências -"Annie e eu fazemos sexo oral o tempo todo"- e observações sobre si mesmo: "Para mim, compor músicas não é uma escolha. É como o trabalho de parto, elas precisam sair".

No final do volume miúdo -menos de 200 páginas-, a sensação não é a de conhecer mais profundamente Willie Nelson, mas a de que o leitor teve a chance de bisbilhotar por algumas passagens a vida do artista, o que não deixa de ser divertido.

Para fazer esta resenha, li "Roll..." no formato eletrônico. Recomendo, porém, que fãs ou apreciadores da arte impressa tratem de comprar o livro propriamente dito, em versão de capa dura.

As letras escolhidas e a diagramação estão muito bacanas, aumentam o prazer da leitura que, no formato e-book, é chapada, página igual após página igual.

ROLL ME UP AND SMOKE ME WHEN I DIE
AUTOR Willie Nelson e Kinky Friedman
EDITORA William Morrow
QUANTO US$ 13, cerca de R$ 27 (192 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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