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Mostra no Rio repassa produção de portuguesa radicada no Brasil

Maria Helena Vieira da Silva, morta em 1992, abandonou figuração depois de estudar em Paris

Obra da pintora lusa combina estudos de linhas, planos e ângulos com impactantes explosões de cor

Divulgação
"L'Incendie I" (1944), importante obra da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, está em exposição no MAM-Rio
"L'Incendie I" (1944), importante obra da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, está em exposição no MAM-Rio
SILAS MARTÍ ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Maria Helena Vieira da Silva criou uma arquitetura em desassossego. Seus quadros são convulsões do espaço, cidades e salas distorcidas por ângulos, linhas em tensão e múltiplos pontos de fuga. Seus cenários se alternam entre a calmaria do mar aberto e a fúria de um incêndio.

De fato, a artista portuguesa, que morreu aos 83, em 1992, atravessou um oceano e sofreu com o calor dos trópicos quando aportou no Rio nos anos 1940, fugida da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No Brasil, essa que foi uma das maiores pintoras do século 20 viveu a contragosto e trabalhava à noite para fugir da canícula diurna.

Sua obra antes, durante e depois do exílio brasileiro está reunida numa retrospectiva no Museu de Arte Moderna do Rio; são telas que destrincham o espaço diante da vista do aterro do Flamengo.

"Há um fio condutor na obra dela que é o espaço", diz Marina Bairrão Ruivo, curadora da mostra.

"No início, são quartos fechados, com alguma figuração. Depois que ela estuda em Paris, acontece uma revolução. Multiplica pontos de fuga, cria perspectivas, matrizes e referências."

Num balaio de formas, Maria Helena mistura as pedras das calçadas de Lisboa com as matrizes espaciais semiabstratas de Paul Klee e as figuras esguias de Alberto Giacometti, que observou em Paris durante seus estudos.

Da mesma forma, ela parece digerir no Brasil as tramas, grelhas e divisões planares das telas do uruguaio Joaquín Torres-García, um dos primeiros a aceitar e elogiar sua obra plástica na América do Sul.

OBRA DE CONTRASTES

A portuguesa parece alternar-se entre telas sintéticas, quase plantas e mapas para cidades imaginárias, e visões claustrofóbicas. Essas são muitas vezes escuras, de ambientes internos, como salas e teatros absortos em turbilhões de cores, abalando esquemas ortogonais.

Uma das obras mais fortes da mostra, "Le Festin de l'Araignée" (o festim da aranha), de 1949, pode ser enquadrada na primeira vertente: uma composição quase toda branca, atravessada por linhas sutis, quase um reflexo de Mira Schendel.

Muito mais densas, telas como "Théâtre" (teatro), de 1953, e "Dislocation du Labyrinthe" (desmembramento do labirinto), de 1982, têm paleta mais carregada, de tons que afogam as linhas, subvertendo as matrizes que ela tanto repetiu.

A meio caminho, entre a depuração dos traços e a avalanche de cor, "La Mer" (o mar), tela que fecha a mostra, parece aplacar as diferenças com um equilíbrio luminoso.

Todo branco, o quadro mostra o reflexo chapado do céu sobre a água -o oceano que dividiu a obra dessa artista entre a figuração e a abstração, calma e tormenta.


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