Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

A causa secreta

"O Mestre", novo filme do diretor de "Sangue Negro", estuda a origem de um culto nos moldes da cientologia

RODRIGO SALEM DE SÃO PAULO

Aos 30 anos, Paul Thomas Anderson já carregava um Urso de Ouro do Festival de Berlim por "Magnólia" (1998) e duas indicações ao Oscar -pelo mesmo filme e por "Boogie Nights" (1999).

Com "Sangue Negro" (2007), parábola sombria sobre obsessão e capitalismo indicada a oito Oscar, foi chamado de "o maior cineasta americano de sua geração".

Ou seja: Paul Thomas Anderson, 42, não teria mais nada a provar desde então.

Mas ao rodar "O Mestre", que estreia hoje, o cineasta decidiu entrar no terreno pantanoso da cientologia, doutrina religiosa que tem seu núcleo de marketing fincado em Hollywood.

No último Festival de Veneza, quando foi lançado mundialmente, a sessão para a imprensa não tinha uma cadeira livre. A expectativa era de que o diretor, obcecado por detalhes e subtextos, destrinchasse a religião que tem Tom Cruise como seu maior garoto-propaganda.

"Não sou burro, mas fui inocente ao achar que a curiosidade [sobre a cientologia] seria menor", confessou Anderson à Folha, dias antes de ganhar o Leão de Prata de direção no festival.

"Era frustrante ouvir as pessoas falando sobre o longa antes de vê-lo. Precisei me desligar porque o roteiro não é sobre cientologia. A última coisa que eu queria era fazer um filme provocador."

"O Mestre" decepcionará quem espera uma radiografia da misteriosa doutrina que tem uma crença baseada em alienígenas e é contra a utilização de remédios para tratar de doenças mentais.

A trama sobre a origem de uma seita chamada "A Causa", na década de 1950, tem, no entanto, similaridades com as raízes da religião. A começar por seu "guru", o físico e filósofo Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), inspirado no criador da cientologia, o escritor de ficção científica L. Ron Hubbard (1911-1986).

"Hubbard é um grande personagem. Não queria especular sobre ele, e sim ultrapassar as histórias sobre sua vida para alcançar o núcleo do homem", diz Anderson.

No contraponto do líder frio que promete resolver traumas com uma espécie de regressão hipnótica, há Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um explosivo ex-soldado americano que volta para casa após o fim da Segunda Guerra Mundial e mergulha em álcool e sexo.

"Militares gostam de ter comando e, quando retornam das missões, procuram uma direção. Só que não há ninguém apontando o caminho", explica o cineasta.

Quell, quando vira devoto da Causa, representa o lado mais intimidador da seita, perseguindo críticos e ameaçando quem se coloca entre Dodd e o avanço da doutrina.

Desde os anos 1960, a cientologia é acusada de impor seus métodos e hoje há vários sites e livros escritos por seus ex-membros que revelam ações brutais de controle, além da perseguição de detratores da religião.

O teor do roteiro fez com que Tom Cruise, indicado ao Oscar de ator coadjuvante por "Magnólia", se indispusesse com o amigo diretor.

"Mostrei o filme para ele, mas o resto da história vai ficar apenas entre nós dois", desconversa o cineasta.

Lucia Winther, representante da cientologia no Brasil, diz que não há orientação de boicote do longa e afirma, mesmo sem ter visto o filme, que a representação de Hubbard "é uma fraude".

"Não baseei meu personagem em Hubbard. Todas as religiões são baseadas em maluquices", tergiversa Hoffman, indicado ao Oscar pelo papel, assim como Amy Adams, que faz a esposa de Dodd, e Phoenix.

"Perguntei para Philip qual seria o ator ideal para fazer Freddie", revela Anderson. "Ele me respondeu: 'Joaquin Phoenix. Ele é o único ator que me assusta'."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página