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Crítica biografia

Estudo caprichado disseca relação de compositor francês com música brasileira

IRINEU FRANCO PERPETUO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na época em que o Brasil estava definindo sua identidade musical, um compositor francês em ascensão sintetizou nossa produção em uma partitura.

"O Boi no Telhado", livro de Manoel Aranha Corrêa do Lago, disseca o retrato de nossa produção pintado pelas lentes modernistas de Darius Milhaud (1892-1974).

Um dos mais prolíficos compositores do século 20, Milhaud chegou ao Rio aos 25 anos de idade, em 1917, às vésperas do Carnaval, como secretário de seu amigo e parceiro criativo, o poeta Paul Claudel (1868-1955), chefe da missão diplomática francesa em nosso país.

Milhaud ficou quase dois anos por aqui, tendo travado conhecimento com algumas das figuras-chave da música de nosso país, como o jovem Villa-Lobos (1887-1959).

Ficou abismado com o conhecimento que os brasileiros tinham da música francesa, e lamentou que as obras de nossos compositores fossem "um reflexo das diferentes fases que se sucederam na Europa, de Brahms a Debussy, e que o elemento nacional não seja expresso de uma maneira mais viva e original".

Milhaud colocou em prática o que esperava dos compositores do Brasil de sua época na obra que dá título ao livro de Lago: "Le Boeuf sur Le Toit" ("O Boi no Telhado"), rondó orquestral para uma pantomima para acrobatas e palhaços do poeta e cineasta francês Jean Cocteau (1889-1963).

Levando o nome de um "tango brasileiro" de José Monteiro (vulgo Zé Boiadêro), "O Boi no Telhado", na verdade, consiste em um pot-pourri (sem citar nomes de autores ou obras) de várias peças brasileiras do período, tanto populares quanto eruditas, com ênfase no paulista Marcelo Tupinambá (1889-1953) e no carioca Ernesto Nazareth (1863-1934).

INTERPRETAÇÃO VIVAZ

Em seu livro, Lago faz um cuidadoso e matizado resgate do ambiente intelectual e musical do Rio de Janeiro da "belle époque".

O volume tem uma edição extremamente caprichada, com textos não apenas de autoria dele, mas ainda de Claudel, Cocteau, da historiadora francesa Anaïs Fléchet, da pesquisadora americana Daniella Thompson, do pianista Aloysio de Alencar Pinto e do musicólogo italiano Vincenzo Caporaletti.

Uma advertência: os termos técnicos utilizados por Lago em sua análise musical da partitura de Milhaud podem não ser acessíveis ao leitor "leigo", bem como o denso cipoal semiótico empregado por Caporaletti.

O que está, sim, ao alcance de todos é o CD que acompanha o livro, com uma interpretação vivaz da obra de Milhaud pela Orquestra da Ópera de Lyon, regida por Kent Nagano, bem como uma adaptação de Paulo Aragão para conjunto de choro que busca resgatar o caráter original dos temas citados pelo compositor francês.

O BOI NO TELHADO
ORGANIZAÇÃO Manoel Aranha Corrêa do Lago
EDITORA IMS
QUANTO R$ 60 (304 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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