Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Livros e mostra reabilitam Yoko Ono aos 80

Retrospectiva na Alemanha e lançamentos nos EUA retomam legado da japonesa para além da vida com John Lennon

Obras conceituais e de vanguarda guiaram os trabalhos de Yoko desde os anos 1960, apesar do preconceito

FRANCISCO QUINTEIRO PIRES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NY

Ao completar 80 anos hoje, Yoko Ono ganhou uma recompensa tardia. Três livros lançados nos Estados Unidos e uma retrospectiva na Alemanha propõem quebrar a maldição que a persegue há quase meio século: a de ser resumida a mulher de John Lennon, culpada pela separação dos Beatles.

Os volumes e a mostra retomam uma ideia sintetizada em uma afirmação de Lennon: "Yoko está bem no meio da vanguarda".

Para a biógrafa Carolyn Boriss-Krimsky, Ono se tornou pária no universo das artes por sugerir "que qualquer um pode ser artista".

"Ela também encorajou a exploração do invisível", diz Boriss-Krimsky, co-autora com Nell Beram de "Yoko Ono: Collector of Skies" (Colecionadora de céus, em inglês; Amulet Books, 184 págs., US$ 24,95), biografia escrita para o público juvenil.

"E considerou os seus trabalhos inacabados até que a presença do público os completasse", afirma.

A biógrafa descobriu a obra de Ono com "Grapefruit" (1964), "seu livro imprevisível de instruções", atualmente exposto em "Tokyo 1955-1970, A New Avant-Garde", exibição do MoMA (Museu de Arte Moderna), em Nova York.

A artista japonesa recomenda em um dos poemas: "Desenhe um mapa para se perder". Segundo Boriss-Krimsky, Ono foi "feminista" quando criou "Cut Piece" (1964), performance apresentada pela primeira vez em Kyoto, no Japão.

"Antes de arte performática ser um termo comum, ela pediu aos espectadores que lhe cortassem as roupas com tesouras", diz. "E com isso lançou um dilema moral."

"Cut Piece" está entre as cerca de 200 obras de "Yoko Ono, Half-A-Wind Show", retrospectiva do Schirn Kunsthalle, em Frankfurt (Alemanha), inaugurada na última sexta.

"Ela é um dos artistas mais influentes da nossa era", lê-se no catálogo (Prestel, 256 págs., US$ 60), à venda no site da Amazon.

A exposição foca os trabalhos dos anos 1960 e 1970, quando Ono se tornou protagonista da arte conceitual em Tóquio e em Nova York, fato pouco lembrado atualmente, de acordo com a curadoria.

EXPECTATIVAS

Autora de "Reaching Out With No Hands, Reconsidering Yoko Ono" (Alcançando sem as mãos, reconsiderando Yoko Ono, Backbeat Books, 136 págs., US$ 18,99), Lisa Carver acredita que a artista foi odiada "por desafiar expectativas".

"Ela não é bonita, não é fácil, suas pinturas não são reconhecíveis, sua voz não é melodiosa, seus filmes não têm trama e seus 'happenings' não fazem sentido. Ela é esquisita", explica.

Carver aprendeu a gostar de Ono aos poucos. Criadora de "Rollerderby", considerado "o zine mais celebrado dos anos 1990" pelo "The New York Times", ela diz se identificar com a independência "da maior das feministas". "Nós duas nunca pensamos no que a mulher deve ser."

Segundo Carver, o desprezo por Ono diminuiu devagar, mas constantemente, desde a morte de Lennon em 1980.

Um dos primeiros a enfatizar a influência da artista sobre o Beatle foi Jonathan Cott, autor de "Days That I'll Remember, Spending Time with John Lennon e Yoko Ono" (Dias que lembrarei, passando tempo com John Lennon e Yoko Ono, Doubleday, 256 págs., US$ 25,95).

Além de uma entrevista inédita com Ono feita em 2012, o livro reúne a íntegra de todas as conversas entre o jornalista e o casal.

Cott entrevistou os dois pela última vez em 5 de dezembro, três dias antes de o ex-Beatle ser assassinado. Foi a última entrevista do músico inglês, publicada postumamente pela "Rolling Stone".

No primeiro encontro com Cott, Lennon fez um comentário destacado pelo repórter na introdução do livro: "Yoko é a artista desconhecida mais famosa do mundo. Todos sabem o seu nome, mas ninguém sabe o que ela faz."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página