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Crítica Épico
Versão de "Odisseia" empobrece o original ao atacar capitalismo
Montagem do Estúdio da Cena é comprometida pelo viés ideológico, que reduz complexidades do texto clássico
Épico do bem contra o mal. "Odisseia", encenação de Marco Antonio Rodrigues, atualiza uma das mais antigas narrativa da cultura grega com crítica ao capitalismo e rumos da esquerda. O ataque empobrece o original sem inovar.
A "Odisseia" de Homero conta o retorno dos heróis que venceram a guerra de Troia, em especial do mais astuto deles, Odisseu. Ele precisou de dez anos para driblar a ira dos deuses e retornar são e salvo à sua terra natal.
Não são as licenças com a saga original nem as alusões à realidade latino-americana que atrapalham o espetáculo. Pesa mais o viés ideológico, que achata as complexidades a um denominador comum.
Os pretendentes que assediam a mulher de Odisseu, tornados em grã-finos, são o bode expiatório eleito. Neste jogo, os artistas -bons- tornam-se heróis ao encarnar/denunciar os burgueses maus.
O olhar talvez só expresse convicções do encenador, mas prevalece também na atuação do coletivo Estúdio da Cena. Os atores demonstram adesão visceral ao projeto e comovem pela fé cênica exibida.
O dramaturgo Samir Yazbek, pouco afeito a processos colaborativos, mostra-se tímido ao compartilhar a autoria com os atores e atrizes. Ao costurar cenas criadas em improvisações, escora-se acentuando o lirismo das falas.
É preciso reconhecer a entrega do grupo à causa, mas o foco estreito da investida compromete o que possa haver nela de inventivo e provocador. (LUIZ FERNANDO RAMOS)
ODISSEIA
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 10/3
ONDE Tusp (r. Maria Antônia, 294; tel. 0/xx/11/3123-5233)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO regular