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Crítica Drama
Modesto e sutil, filme "O Quarteto" deixa seus atores brilharem
Estreia na direção de Dustin Hoffman conta história de quatro músicos aposentados que tentam salvar asilo
Dustin Hoffman, um dos atores de rosto comum promovidos a astros pela Hollywood dos anos 1960, estreia na direção com "O Quarteto", produção inglesa sobre uma casa de repouso para músicos idosos.
E estreia de maneira digna, respeitando o tempo e a entonação dos atores e permitindo que cada um deles brilhe à sua maneira.
Brilha especialmente o quarteto que dá nome ao filme: Tom Courtenay, Maggie Smith, Billy Connolly e Pauline Collins vivem os quatro ex-cantores de ópera que representam "Rigoletto", de Verdi, para levantar fundos necessários à manutenção da casa.
Courtenay está impressionante como o grande tenor
Reginald Paget, e a relação entre ele e a ex-diva vivida por Smith é responsável pelos momentos mais tocantes do filme.
A direção de Hoffman é segura, livre de afetações. Na história, não há chantagens emocionais ou truques de roteiro que paparicam o espectador.
Há somente um respeito profundo pelo envelhecimento, pelas inseguranças e deficiências de cada um, além de um salutar respeito pela música (nesse sentido é o contrário de "Intocáveis", no qual a música erudita simboliza o decadentismo europeu).
A decadência mostrada por Hoffman é a do corpo, tem a ver com a inevitável proximidade da morte e com a impermanência das coisas (a cena em que um dos internos sai de maca para o hospital é bem aflitiva). Por isso nos toca profundamente.
Nós, que perdemos pessoas queridas, que vislumbramos constantemente o fim de uma vida e que sabemos o valor da vivência e da sabedoria adquirida com o tempo.
"O Quarteto" é modesto e sutil, um pedaço de vida representado por grandes atores.