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Melancolia dá o tom em temporada internacional

Semanas de moda da Europa e dos EUA revisitam clima dos anos 1990

Grandes mentes da moda, como Miuccia Prada e Marc Jacobs, voltam olhos para momento pré-crise

VIVIAN WHITEMAN ENVIADA ESPECIAL A PARIS

"Onde estamos agora?", pergunta David Bowie no primeiro single de seu novo álbum, "The Next Day", trilha perfeita para entender o espírito desta temporada.

Onde estamos agora? Nos anos 1990, responde a moda, que desde sempre abraçou a confusão entre espaço e tempo. As semanas de moda de Nova York, Londres, Milão e Paris voltaram no tempo e estacionaram suas linhas e agulhas na década que antecedeu o apocalíptico ano de 2001.

Não apenas pelos atentados de 11 de Setembro, mas pela onda de medo, terror e obsessão por segurança que se seguiu a eles.

As grandes mentes da moda estão relendo, em 2013, o momento exatamente anterior à queda das torres e à instalação de um certo estado de sítio mundial.

Marc Jacobs, a principal cabeça da semana de Nova York, fez suas mulheres acordarem de pijama nas ruas de Manhattan. Terá sido um sonho, um pesadelo?

As moças têm um cabelinho anos 1990, perucas obviamente feitas para parecerem datadas. As peles verdadeiras se transformam em estolas de raposa de pelúcia, como se elas estivessem sendo enganadas feito crianças.

O que estariam fazendo antes deste sono profundo iniciado em 2001? Um sol na passarela, inspirado em mostra do artista Olafur Eliasson, fazia as roupas mudarem de cor conforme a luz.

Assim, em seus flashes de memória, as moças iam deixando os pijamas e se lembrando que viviam presas entre vestidos de festa glamourosos e roupas de trabalho ("Sex and the City" e sua idolatria da mulher bem-sucedida e festeira surgiu em 1998).

Em Londres, Christopher Kane, a nova marca do megagrupo PPR, voltou à estética clubber. Uma clubber-chic, como pede a releitura atual, feita para mulheres endinheiradas.

Uma espécie de uniforme de guerra para as pistas, com sapatos para dançar na lama e enfrentar obstáculos.

As "soldadinhas" inglesas estavam fervendo nos clubes nos anos 1990, mas também viviam a realidade dos "riots", tumultos que pipocaram na Inglaterra durante toda aquela década.

Em Milão, Miuccia Prada botou na passarela moças de cabelo molhado e ombros de fora. Seguras e sexies com suas roupas de operária (estilizadas, é claro), carregam casacos que vão do manto de pele clássico ao xadrez nosso de cada dia, apenas com punhos ou golas felpudos.

Os anos 1990 na Itália foram um tempo de valorização da figura do trabalhador contra o opressor. Naquela década, operações anticorrupção mudaram a cara política do país. Mas foi também nesta época que, em contraponto a um ressurgimento da esquerda, emergiu a figura do canhestro Silvio Berlusconi.

CAMISOLA

E tudo volta a Marc Jacobs, com seu desfile para a Louis Vuitton, em Paris. Moças de camisola e casaco vagam melancólicas por corredores de hotel. São mulheres que acordaram num mundo sem casa, com camas de aluguel.

Os casacos parecem sujos, manchados de poeira espessa (como não lembrar das fotos dos nova-iorquinos cobertos pela poeira das Torres Gêmeas?). Mas, enquanto buscam seus sonhos perdidos de porta em porta, as roupas dessas moças vão ganhando brilho.

Na faixa "The Stars (Are Out Tonight)", Bowie diz que as estrelas (do céu, da moda, do cinema) apareceram e que espera que vivam para sempre.

No universo fashion, o brilho de um casaco pode representar uma estrela, uma esperança. Sim, tudo é comércio, o foco está nas vendas, mas há pessoas inteligentes pensando e lançando mensagens.

Onde estamos, fashionistas? Nos anos 1990, aquela época em que, na profundidade de nossos problemas, redescobríamos a fome de viver.


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